Crítica | Madame Durocher (2024): retrato de uma mulher cuja história não pode ser esquecida

Mesmo em um longa imperfeito, cinebiografia imortaliza na sétima arte uma das figuras mais interessantes (e pouco lembradas) da história do Brasil com orgulho e interpretações marcantes de suas protagonistas. O post Crítica | Madame Durocher (2024): retrato de uma mulher cuja história não pode ser esquecida apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.

Jan 26, 2025 - 13:48
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Crítica | Madame Durocher (2024): retrato de uma mulher cuja história não pode ser esquecida

Já foi dito algumas vezes que a arte é a memória de um povo. Que, por meio de filmes, livros, músicas, conseguimos imortalizar pessoas e eventos. Pois bem, se existem pessoas que merecem seu lugar na memória eterna do país, uma delas é Marie Josephine Mathilde Durocher ou, simplesmente, “Madame Durocher“, a primeira mulher a integrar a Academia Imperial de Medicina do Brasil, em meados do (não tão longínquo) século XIX.

Dirigido pela dupla Dida Andrade e Andradina Azevedo (“Eike, Tudo ou Nada”), “Madame Durocher” mostra a saga dessa parisiense criada no Brasil para não só conseguir exercer a obstetrícia, mas também ser respeitada como médica e mulher. Abarcando a vida da protagonista-título desde sua juventude até sua maturidade — vivida nestas fases, respectivamente, por Jeanne Boudier e Sandra Corveloni —, a produção faz um retrato eficiente da luta e das tragédias na vida de Marie.

A criação difícil da futura médica ao lado da mãe (Marie-Josée Croze) é um dos grandes destaques do filme, especialmente com a maravilhosa química entre Boudier e Croze. A relação entre mãe e filha forja em fogo a personagem e faz com que seja natural a sua obstinação no momento posterior de sua vida, quando Sandra Corveloni surge em cena, exalando impetuosidade e compaixão.

A dupla de diretores faz um bom trabalho ao colocar o espectador no meio do Brasil da época de Dom Pedro II, especialmente do machismo e elitismo vigente na Academia de Medicina, algo fundamental para a trama. Porém, há um certo exagero nas figuras ao redor de Marie, especialmente com Mateus Solano, cujo Dr. Hermínio, que assume aqui a função de antagonista, por vezes beira o caricatural, sendo salvo pelo carisma natural de seu intérprete.

André Ramiro se sai melhor com o seu Dr. Joaquim, mentor da Madame Durocher, caminhando entre o professoral e o paternal, mas infelizmente Isabel Fillardis surge bem perdida com sua Clara. Outro problema da produção, inclusive bastante comum em cinebiografias, é que os diretores não conseguem fugir do tom quase episódico que a trama assume em dados momentos.

É inegável que “Madame Durocher” está no seu melhor quando foca em Marie, em qualquer de suas versões, com Jeanne Boudier e Sandra Corveloni entregando interpretações maravilhosas dessa mulher que sim, merece ser eternizada nas telas. E isso felizmente ocorre neste filme que, embora imperfeito, a retrata com o respeito que merece.

*Filme visto no Festival Varilux de Cinema Francês 2024.

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