Crítica | O Clube das Mulheres de Negócios (2024): sátira afiada, narrativa dispersa
Apesar de momentos provocativos, novo longa de Anna Muylaert não consegue sustentar o desenvolvimento de sua própria premissa. O post Crítica | O Clube das Mulheres de Negócios (2024): sátira afiada, narrativa dispersa apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.
Em “O Clube das Mulheres de Negócios”, a diretora e roteirista Anna Muylaert propõe um exercício de imaginação: o que aconteceria se as mulheres mais poderosas do Brasil assumissem os papéis de poder historicamente ocupados por homens? Tal premissa desperta o interesse ao retratar um microcosmo que brinca com o desconforto do público ao ver homens submetidos às mesmas situações frequentemente enfrentadas por mulheres no mundo real.
A trama segue Jongo (Luís Miranda), um fotógrafo veterano, e Candinho (Rafael Vitti), um jovem repórter, em sua incursão ao exclusivo clube do título. O objetivo da dupla é entrevistar a diretoria, composta por personagens excêntricas que ocupam o topo da cadeia de comando. Nesse mundo, a dinâmica do poder foi invertida, e a opressão, apesar de mudar de rosto, mantém sua essência.
As integrantes do clube são interpretadas por um elenco de peso. Cada uma é uma caricatura pensada cuidadosamente para refletir os conhecidos estereótipos das figuras de poder masculinas. É nesse contexto que nomes como Katiuscia Canoro e Grace Gianoukas brilham em papéis que abraçam o exagero sem perder a conexão com a crítica.
No entanto, o filme esbarra na dificuldade de transformar sua premissa em uma narrativa que sustente a riqueza do tema. A trama se apoia na inversão de gêneros, mas não chega a questionar como essas estruturas poderiam ser ressignificadas. Por se limitar a reproduzir a mesma opressão, “O Clube das Mulheres de Negócios” perde a chance de se aprofundar nas complexidades do poder sob essa nova visão e acaba reforçando a ideia de que a tirania é sempre inerente a quem detém o controle.
Apesar dessas questões, Muylaert não perde a mão ao provocar e ridicularizar as figuras que regem o Brasil. A sátira ganha força nas situações e diálogos mirabolantes, que mesmo não sustentando a narrativa sozinhos, são o que fazem valer a sessão. Além disso, a obra também provoca uma reflexão sobre como os homens reagem ao se verem retratados como objetos de poder ou submissão. A cineasta parece falar diretamente com o espectador masculino, desafiando-o a reconhecer os mecanismos que sustentam o patriarcado e a se ver em um espelho distorcido, mas revelador.
Contudo, até esse humor se torna refém da necessidade de externalizar mensagens já evidentes. O resultado é um roteiro que, por vezes, troca a sutileza pela exposição excessiva, enfraquecendo o impacto do comentário social. Existe também uma insistência em uma subtrama animalesca que, embora tenha potencial simbólico, não parece se encaixar na trama principal. Outra camada que poderia ser mais explorada, mas ainda tem seus momentos, é a relação entre as mulheres poderosas do clube. Há uma tensão implícita entre a solidariedade do gênero e a competição pelo poder que não é explicitamente desenvolvida, mas que aparece em pequenos gestos e interações. Esse aspecto sugere que o poder, quando inserido em uma hierarquia, pode fragmentar alianças, independentemente de quem o exerce.
“O Clube das Mulheres de Negócios” é um experimento feito para provocar risos e desconfortos, mas que, em certos momentos, parece perdido em suas próprias ambições. Muylaert nos lembra que o humor é uma ferramenta poderosa para desconstruir estruturas. Porém, ao tentar explicar demais suas intenções, o filme subestima a capacidade de interpretação do público. O impacto da narrativa poderia ser mais eficaz se confiasse mais nos elementos visuais e nas interpretações, que já trazem camadas suficientes de significado.
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