Lula cobra das nações ricas dinheiro prometido para preservação ambiental

Presidente quer saber se países desenvolvidos levarão a sério compromisso firmado no Acordo de Copenhague "ou se vamos brincar". COP 30 tem a difícil tarefa de obter US$ 1,3 trilhão para combate às mudanças climáticas

Jan 31, 2025 - 15:57
 0
Lula cobra das nações ricas dinheiro prometido para preservação ambiental

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou, ontem, dos países ricos que cumpram o Acordo de Copenhague, quando, em 2009, se comprometeram a destinar US$ 100 bilhões anuais — meta jamais alcançada — às nações menos desenvolvidas para o financiamento de medidas de mitigação das mudanças climáticas. Isso porque, segundo Lula, se o acordo que fecharam não for levado a sério, as conferências da ONU para as Mudanças Climáticas (COPs) serão desmoralizadas.

"Os países se comprometeram a dar U$ 100 bilhões para os países, por ano, em Copenhague, e não deram. Agora, a necessidade é de US$ 1,3 trilhão, e tenho certeza de que não vão dar. É preciso que a gente faça uma discussão séria se queremos discutir a questão do clima de verdade, se queremos fazer uma transição energética de verdade, ou se vamos brincar", exigiu, para acrescentar:

"Temos uma luta muito grande nessa questão do clima. Não é uma coisa pequena. Se a gente não fizer uma coisa forte, essas COPs vão ficar desmoralizadas. Porque, se aprova as medidas, fica tudo muito bonito no papel, e depois nenhum país cumpre".

O Brasil sedia, em novembro, a COP 30, em Belém, e uma das principais metas do encontro é, justamente, alcançar esse US$ 1,3 trilhão em investimentos. Na COP 29, em Baku, no Azerbaijão, em 2024, os países aprovaram a destinação de um total de US$ 300 bilhões por ano até 2035, bem longe da meta trilionária fechada na capital dinamarquesa, na COP 15, quase 16 anos atrás. O resultado foi considerado um fracasso pelos analistas e um "insulto" pelos países em desenvolvimento.

O objetivo de US$ 1,3 trilhão é considerado difícil e foi admitido pelo presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago. Inclusive, ele frisou, ao ser anunciado por Lula como principal negociador da conferência, que a chegada de Donald Trump à Casa Branca é um fator a dificultar ainda mais que se alcance tal objetivo. Mesmo porque, logo no discurso de posse, o presidente dos Estados Unidos deixou evidente a antipatia que tem pelo tema — além de deixar claro que fomentará a indústria norte-americana de combustíveis fósseis.

"Em qualquer parte da Terra, dão palpite sobre a Amazônia, todo mundo é especialista, todo mundo quer proteger. Então, vamos fazer (a COP) lá, na cidade de Belém, para que as pessoas saibam o que é a Amazônia', frisou, comentando, ainda, a saída dos EUA do Acordo de Paris.

"Trump acabou de anunciar a saída do Acordo de Paris, mas os EUA já não tinham cumprido o Acordo de Kioto. Os países se comprometeram a dar US$ 100 bilhões por ano para os países em desenvolvimento e, até hoje, não deram", frisou.

Na coletiva de ontem, disse, também, que organizará uma reunião com ministros da agricultura dos países africanos, em maio, para discutir medidas de combate à fome. Será o primeiro encontro da Aliança Global de Combate à Fome, lançada na reunião do G20, no ano passado, no Rio de Janeiro. 

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Queimada avança em São Paulo 

Os dados reunidos no Anuário Estadual de Mudanças Climáticas, divulgados ontem, mostram que se o Pará continua sendo o estado no qual as queimadas são mais intensas, São Paulo passou a figurar no ranking que apresentou o mais expressivo crescimento percentual na destruição causada pelos incêndios entre 2023 e 2024. O território paulista registrou, no ano passado, 6.163 km² de área queimada — um aumento 13 vezes maior do que o total verificado no mesmo período anterior.

Essa área incendiada é maior do que a do Distrito Federal e corresponde a quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo. A elevação de 1.235% no número de queimadas foi um dos maiores aumentos entre as unidades da Federação. Chamaram a atenção, também, o avanço dos incêndios no Mato Grosso do Sul (268% na comparação de 2024 com 2023), no Mato Grosso (198%) e em Minas Gerais (151%).

O Pará permanece na liderança do ranking com a maior área queimada no ano passado — uma área de 73.836 km² consumida pelo fogo, expansão de 87% em relação a 2023. Trata-se de um território comparável ao de países como Panamá ou a República da Irlanda.

No total, o Anuário mostra que foram mais de 300 mil km² queimados em 2024, área superior ao tamanho da Itália, segundo dados do Mapbiomas. Trata-se de um aumento de 79% em relação a 2023, quando cerca de 170 mil km² haviam sido devastados.

A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, lembrou que o Brasil tem o compromisso de zerar o desmatamento até 2030. Até o momento, o país apresenta resultados positivos em algumas áreas, como a redução de 45% na devastação da Amazônia e de 48%, no Cerrado.

"O Brasil tem o compromisso de zerar o desmatamento até 2030. Mas essa não é uma tarefa fácil. Não queremos ficar nessa dos resultados já alcançados. A cada dia, temos que quebrar o nosso limite", exortou.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi