Queda das ações de TI é só o começo?

A queda brusca das ações das gigantes americanas de tecnologia causada pelo surgimento surpreendente da inteligência artificial chinesa da DeepSeek é só o começo de uma transformação profunda no mercado. É o que acredita Nassim Taleb, au...

Jan 30, 2025 - 15:31
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Queda das ações de TI é só o começo?

A queda brusca das ações das gigantes americanas de tecnologia causada pelo surgimento surpreendente da inteligência artificial chinesa da DeepSeek é só o começo de uma transformação profunda no mercado.

É o que acredita Nassim Taleb, autor de “A Lógica do Cisne Negro”, um livro que fala justamente sobre acontecimentos inesperados que redefinem a maneira de pensar sobre um determinado assunto. 

Em uma entrevista para a Bloomberg, Taleb, disse que a queda de 17% nas ações da Nvidia, uma das maiores fabricantes de chips do mundo, é apenas um aperitivo do que está por vir para aqueles que investem “cegamente” em Wall Street, baseando-se nas promessas da inteligência artificial.

Para o autor, a retração futura pode chegar a ser duas ou três vezes maior do que a queda que eliminou US$ 589 bilhões do valor de mercado da fabricante de chips, tida como a maior da história em volume de mercado.

Mesmo com o embargo dos Estados Unidos, que impede a China de comprar chips potentes para a indústria militar e a inteligência artificial, a medida não foi suficiente para mostrar às Big Techs ocidentais que o domínio da IA vai além de fronteiras — e com custos muito inferiores aos milhões investidos pelas empresas estadunidenses.

A DeepSeek gastou cerca de US$ 6 milhões para treinar seu algoritmo, 10% do que a Meta utilizou para fazer o mesmo. Surge agora a retórica de que os chineses “contrabandearam” processadores proibidos, um ato visto por especialistas do setor como improvável, devido à escala, e como uma tentativa de desmerecer o feito chinês.

Para Taleb, está claro que a narrativa dos investidores, de que as ações das empresas continuariam subindo desde que a Nvidia mantivesse seu domínio na IA, está, no mínimo, equivocada.

“O recuo ocorrido na segunda-feira foi muito pequeno se considerados os riscos no setor. Este é o começo de um ajuste das pessoas à realidade, porque agora elas percebem que não é mais perfeito. Você tem uma pequena rachadura no vidro”, afirmou Taleb na entrevista à Bloomberg.

Em A Lógica do Cisne Negro, lançado originalmente em 2008, Taleb apresenta uma visão contrária à da maioria dos economistas: ou seja, estamos constantemente à mercê do inesperado.

O autor define um Cisne Negro como um evento com três características altamente improváveis: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e, após sua ocorrência, inventamos um meio de torná-lo menos aleatório e mais explicável. Ele cita o sucesso do Google e o atentado de 11 de setembro como exemplos.

Mais recentemente, Taleb alertou para o endividamento do governo dos Estados Unidos e afirmou que os investidores não estavam preparados para uma alta na taxa de juros. Os indicadores de referência nos EUA subiram quase 50% desde então, muito impulsionados pelo “frenesi” da IA.

Hoje, ele descreve as empresas de tecnologia como “cisnes cinzentos”, já que os investidores aumentam os preços das empresas de IA sem saber como elas funcionam ou qual será seu real sucesso, subestimando os desvios nos preços que podem ocorrer em um único dia.