É miopia do Ocidente?
Enquanto o Ocidente ainda se vangloria de seu histórico como berço da inovação tecnológica, da criação da internet, da primeira viagem a lua, da criação do smartphone, o Oriente está reescrevendo as regras do jogo. A ascensã...
Enquanto o Ocidente ainda se vangloria de seu histórico como berço da inovação tecnológica, da criação da internet, da primeira viagem a lua, da criação do smartphone, o Oriente está reescrevendo as regras do jogo. A ascensão de potências, principalmente a China, mas sem esquecer a Coreia do Sul, Japão e outros países asiáticos em setores como inteligência artificial, computação em nuvem, robótica e biotecnologia revela uma mudança tectônica no cenário global.
O surgimento do DeepSeek parece ser a ponta exposta do iceberg, mas antes já havia o TikTok, Xiaomi, BYD, Huawei, Samsung, LG, Sony, Asus, Acer, Tata, Infosys, Hyundai, entre muitos outros.
O que antes era visto como uma corrida desigual, com o Ocidente na liderança, hoje se transformou em uma disputa acirrada — e, em muitos aspectos, o Oriente está ganhando de lavada.
A miopia do Ocidente em reconhecer essa realidade pode custar caro.
Há décadas, o Oriente vem construindo uma base sólida para sua ascensão tecnológica. Enquanto o Ocidente se concentrava em debates sobre regulamentação, privacidade e ética na tecnologia — questões importantes, mas que muitas vezes retardam a inovação —, o Oriente avançava com agilidade e pragmatismo, muitas vezes, de forma silenciosa.
Países como a China, por exemplo, estabeleceram planos estratégicos de longo prazo, como o "Made in China 2025" e a meta de liderar o mercado global de inteligência artificial até 2030. Essas iniciativas não são meras declarações de intenção, mas parte de um esforço coordenado para dominar setores-chave da economia global. A tecnologia é fundamental para a prosperidade econômica nos próximos 30, 50 ou 100 anos.
Um dos pilares do sucesso tecnológico oriental é a capacidade de executar em grande escala e em tempo recorde. Enquanto empresas ocidentais muitas vezes se perdem em processos burocráticos e hierarquias rígidas, as empresas asiáticas operam com uma mentalidade de "construir rápido, iterar e escalar".
Essa agilidade é particularmente evidente em setores como inteligência artificial, onde soluções são desenvolvidas e implementadas em ritmo acelerado, muitas vezes superando as iniciativas ocidentais. A China, por exemplo, já é líder global em publicações científicas sobre IA e detém uma parcela significativa das patentes mundiais na área.
Outro fator crucial é a capacidade do Oriente de produzir tecnologia de ponta a custos significativamente menores. Isso não se deve apenas à mão de obra mais acessível, mas também a uma infraestrutura robusta de fabricação, cadeias de suprimentos integradas e investimentos estratégicos em áreas-chave.
Um exemplo emblemático é o investimento anual de US$ 56 bilhões da China em uma rede nacional de computação, que visa criar uma infraestrutura de dados unificada e eficiente para impulsionar a inovação em setores como IA, big data e computação em nuvem. Esse tipo de investimento maciço em infraestrutura tecnológica coloca o país em uma posição privilegiada para liderar a próxima onda de inovação global. E isso não começou agora. É estrategicamente desenhado há muitos anos atrás.
Enquanto o Ocidente muitas vezes prioriza resultados de curto prazo e retornos rápidos para acionistas, o Oriente adota uma visão de longo prazo. Empresas e governos asiáticos estão dispostos a investir em projetos que podem levar anos — ou até décadas — para dar frutos.
Essa paciência estratégica tem sido fundamental para o desenvolvimento de tecnologias disruptivas, como a inteligência artificial generativa do DeepSeek, que está e irá revolucionar indústrias inteiras.
O avanço tecnológico do Oriente não é um fenômeno recente. Há anos, sinais claros apontam para uma aceleração constante. Além disso, empresas chinesas como Huawei, Tencent e Alibaba estão na vanguarda de setores como 5G, computação em nuvem e comércio eletrônico. A Coreia do Sul, por sua vez, é líder global em tecnologias de semicondutores, enquanto o Japão continua a inovar em robótica e automação.
A relutância do Ocidente em reconhecer ou desdenhar o avanço tecnológico do Oriente pode ser atribuída a uma combinação de fatores: preconceitos culturais, falta de compreensão sobre os ecossistemas de inovação asiáticos e, em alguns casos, uma certa arrogância histórica. Enquanto o Ocidente se vê como o centro do mundo tecnológico, o Oriente está construindo o futuro de forma silenciosa, mas implacável. Ignorar essa realidade não é apenas um erro estratégico — é uma ameaça à competitividade global. E criar barreiras domésticas, alfandegárias ou imposições econômicas para evitar esta aceleração, só alimentou, até agora, a capacidade e a criatividade do oriental que busca na restrição a sua inovação.
O futuro da tecnologia não será moldado por uma única região ou cultura. Não é restrito a um único país. O Oriente já provou que é capaz não apenas de competir, mas de liderar em setores críticos. Para o Ocidente, é essencial abandonar a miopia e adotar uma visão mais ampla e colaborativa. Aprender com os sucessos do Oriente, investir em parcerias estratégicas e repensar abordagens ultrapassadas são passos fundamentais para garantir que a inovação continue a prosperar em escala global.
Será que as empresas ocidentais também possuem esta mentalidade ? E você, como enxerga essa mudança no cenário tecnológico? O que sua empresa ou setor pode aprender com a ascensão do Oriente?
*Por Reges Bronzatti, advogado especialista em tecnologia.