O assédio das bets por mensagem no Instagram
O investimento das bets em publis com artistas e influenciadores tem sido essencial para conquistar apostadores e agravar a epidemia de vício em jogos online. Esse universo das celebridades com milhões de seguidores e cachês nas alturas foi tema da reportagem O bonde do tigrinho, na edição de janeiro da piauí, que revelou as estratégias da máquina de propaganda das bets e os cachês de nomes como Neymar, Carlinhos Maia e Virgínia Fonseca. Gkay, por exemplo, ganhava 1,4 milhão de reais por mês para promover a Esporte da Sorte até meados de 2024, quando percebeu que seu filme estava se queimando cada vez mais e decidiu romper com a empresa. Perfis com poucos seguidores também recebem propostas de cassinos online. Muitos robôs a serviço de bets disparam mensagens automáticas para contas de Instagram propondo uma “parceria”. The post O assédio das bets por mensagem no Instagram first appeared on revista piauí.
O investimento das bets em publis com artistas e influenciadores tem sido essencial para conquistar apostadores e agravar a epidemia de vício em jogos online. Esse universo das celebridades com milhões de seguidores e cachês nas alturas foi tema da reportagem O bonde do tigrinho, na edição de janeiro da piauí, que revelou as estratégias da máquina de propaganda das bets e os cachês de nomes como Neymar, Carlinhos Maia e Virgínia Fonseca. Gkay, por exemplo, ganhava 1,4 milhão de reais por mês para promover a Esporte da Sorte até meados de 2024, quando percebeu que seu filme estava se queimando cada vez mais e decidiu romper com a empresa.
Perfis com poucos seguidores também recebem propostas de cassinos online. Muitos robôs a serviço de bets disparam mensagens automáticas para contas de Instagram propondo uma “parceria”.
Um convite feito por uma conta de robô no Instagram chegou até minha caixa de mensagens no final de dezembro de 2024, com um chamado para promover uma bet chamada Loljogo, que não está entre as autorizadas pelo Ministério da Fazenda a operar no país. Ao fim da mensagem havia um link que orientava que as conversas fossem feitas no Telegram.
De cara, cogitei algumas hipóteses: poderia ser um golpe, que exporia meus dados a um crimonoso, ou uma tentativa efetiva de amealhar divulgadores para uma bet ilegal no país.
A conta de Telegram mostrava o nome Jim Davitt e uma foto de um homem loiro aparentemente gerada por Inteligência Artificial. A conversa por mensagens era truncada, dando a entender que o interlocutor era alguém que não sabia escrever português e recorria a programas de tradução com o ChatGPT. No começo da conversa, o suposto Davitt pediu para eu enviar meu perfil de Instagram para verificação. Depois que lhe enviei um print, o interlocutor foi direto ao assunto: “você só precisa postar e promover nossa plataforma todos os dias e chegar a cem depósitos.” O valor do pagamento por cem “depósitos”: 1 mil reais.
Expliquei a ele que sou leigo nesse universo e não conhecia o significado desse “depósito”. O interlocutor respondeu: “É o jogador que entra no seu link para jogar o jogo, querido.” Ou seja: cada cliente fisgado é um “depósito” (a nomenclatura é certamente fruto de algum termo mal traduzido).
Perguntei se o valor jogado pelas pessoas iria interferir na minha hipotética remuneração. A resposta foi “não”. O que vale é o número de pessoas. O interlocutor pediu então que eu estabelecesse uma meta de quantos clientes gostaria de atrair. Para fechar negócio, eu teria de arregimentar pelo menos cem apostadores em sete dias. Caso conseguisse a proeza de convencer 5 mil apostadores a fazerem o cadastro em até uma semana, eu teria um bônus: “100 reais serão pagos toda vez que você chegar a 2k extra”, ou seja, a cada 2 mil novos usuários.
O interlocutor mandou uma imagem da casa de apostas para ser divulgada como propaganda e passou um link para cadastro, que levava ao site da bet. Pedi para conversar por ligação de telefone em mais de uma ocasião, mas fui informado de que essa opção não estava disponível: “Nós não permitimos o uso de telefone, querido.” Encerrei a conversa sem clicar no link.
Em uma outra propaganda que chegou por DM de Instagram, mais uma vez um link direcionava para um perfil de Telegram. A conta de “c”, dessa vez sem sobrenome, no Telegram, cuja imagem também parece ter sido criada por inteligência artificial, vinha com mensagens também truncadas – ela chegou a responder em russo e italiano em alguns momentos. A impressão era de que eu estava falando com alguém de fora do país e que usava programas de tradução. A interlocutora, de todo modo, perguntou quantos usuários eu gostaria de atrair em uma semana. “Precisamos de um número específico para trabalhar, por isso também saberei quanto será o seu salário. Talvez possa escolher entre esses números: 20, 30, 40, 50, 60, 70, 100, 200, 400 e 1000. A sua escolha é a sua meta.”
Ela explicou que faria um adiantamento de 500 reais e depois eu ganharia a segunda parcela após bater a meta estabelecida. A empresa propõe 10 reais por cliente novo, não importa o valor que a pessoa jogar. “Nosso método de pagamento 50% após a postagem e outros 50% após você atingir a sua meta desejada.” Quando perguntei para qual bet eu faria a propaganda, ela pediu que eu clicasse em um link para fazer o cadastro e então seguir com a proposta. Não aceitei o pedido.
Um terceiro perfil de robô no Instagram, que tem 14 consoantes, dois números e três vogais em seu nome de usuário que mais parece uma senha de banco, mandou uma mensagem para oferecer anúncios para a plataforma PG, que, segundo ele, “foi autorizada pelo governo federal brasileiro” em outubro e tem disponível 30 milhões de reais “para publicidade e promoções”. Ao fim da mensagem não personalizada, foi deixado um link para estabelecer uma conversa por WhatsApp, com número dos Estados Unidos. A foto do perfil mostrava uma paisagem de montanha e mar. A piauí mandou algumas mensagens para esse contato, sem sucesso. PG também não consta entre as empresas que pediram autorização do governo federal para atuar no Brasil.
O documentário Deu Red: Azar ao alcance das mãos, dos alunos do curso de jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Caio Azevedo, João Gabriel Reis, João Coutinho, Matheus Gomes e Yago Godoy, disponível no YouTube, discute a epidemia de pessoas viciadas em cassinos online. Nele, a influenciadora digital Nath Finanças diz que a remuneração das bets se dá da seguinte forma: a empresa paga metade do valor antes de a pessoa divulgar, e a outra metade depois de bater a meta. Nath confirma o que os perfis de Instagram a serviço dos cassinos online têm feito nas redes sociais em busca de divulgadores: quem aceita fazer propaganda está diretamente ligado a atrair um cliente que pode se tornar um viciado em muito pouco tempo. Nath Finanças diz nunca ter aceitado fazer essa propaganda por questão de princípios e valores. “Eu não conseguiria dormir à noite”, diz ela no documentário.
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