Violência e design
Como já disse num post anterior, abandonar a última versão do logotipo da República e voltar à versão anterior é uma decisão má. Não é uma questão económica ou estética. É uma questão ética que ultrapassa o design. Fizeram-se ameaças à integridade do designer que criou o logotipo. Essa violência não foi arbitrária. Sustentou-se numa […]
Como já disse num post anterior, abandonar a última versão do logotipo da República e voltar à versão anterior é uma decisão má. Não é uma questão económica ou estética. É uma questão ética que ultrapassa o design.
Fizeram-se ameaças à integridade do designer que criou o logotipo. Essa violência não foi arbitrária. Sustentou-se numa campanha de comunicação organizada pela extrema-direita, com vídeos bem produzidos nas redes sociais. O objectivo era provocar indignação fazendo da nova identidade um ataque à identidade nacional. Montenegro legitimou esses pontos de vista, consagrando-os como promessa eleitoral que pôs imediatamente em prática.
O cerne do problema não é a economia ou a estética. Ultrapassa o design. Tem que ver com legitimar várias formas de violência como meio de intervenção política — que deveriam ser incompatíveis com uma democracia.
Não me parece eficaz, ou certeiro, tratar este assunto sob o prisma de ser ou não bom design. Ou progresso contra retrocesso. A questão central é a legitimação da violência.
É claro que há outras questões, que dizem sobretudo respeito aos designers — por exemplo, a invocação acrítica do “bom design” ou do design como necessariamente progressista. Comentarei isso em outros posts.