Quem liga os pontos da moda
Responsável pelo olhar macro de uma grife, o diretor criativo é essencial para construir uma narrativa coerente e levar a roupa para um mundo além da passarela
Foi no dia 3 de dezembro que a Chanel desfilou a sua tradicional coleção Métiers d’Art na cidade chinesa de Hangzhou. A apresentação costuma ser um mergulho inexplicável nos códigos da maison fundada por Gabrielle Chanel, daqueles de fazer os olhos brilharem. No entanto, desta vez, a minha percepção — e meu questionamento — foi diferente.
Assistir aos mais de sessenta looks atravessarem a ponte do West Lake (lago imortalizado no Coromandel do século XIX adquirido pela própria Coco Chanel e disposto em seu escritório no apartamento da Rue Cambon, em Paris) me fez apreciar o trabalho manual excepcional dos ateliês, claro. Também tive convicção sobre ser uma série que vai agradar ao público.
Entretanto, o cenário mencionado como fonte de inspiração me pareceu um tanto perdido na narrativa. Afinal, se a conexão Paris-Hangzhou partiu do painel laqueado com detalhes em madrepérola e ouro, o que, de fato, faltava para amarrar todas as pontas da história? A resposta para mim é única: um diretor criativo.
Nem todo estilista é diretor criativo, mas todo diretor criativo entende sobre roupa, cenário, narrativa e trilha sonora, escolhe o casting das suas campanhas e desfiles e orquestra tudo com a imagem da marca. O mestre da cerimônia de cada grife visualiza a construção da sua personagem como um todo.
Um exemplo — e pessoalmente acredito que seja o maior de todos — é Giorgio Armani. Ele, que no dia 24 de julho celebra meio século da sua marca homônima, traduziu como ninguém a sua ideia de elegância para o vestuário.
Na época, foi responsável por revolucionar os guarda-roupas, tanto feminino quanto masculino, a partir de pontos de vista pessoais. Tirar enchimentos e forros estruturados, assim deixando as peças mais leves, foi só uma das transformações que fizeram história.
No ano de celebração dos seus 91 anos de idade, o diretor criativo e visionário também comemora os 25 anos de Armani/Casa e as duas décadas de Giorgio Armani Privé. Ainda ativo nos negócios que levam seu sobrenome, ele mantém o cuidado com o que é produzido — seja no segmento de moda ou fora dele. Mas o Sr. Armani é uma exceção, não uma regra. Nem todo diretor criativo é, necessariamente, o fundador da sua própria marca.
Recentemente, duas grandes notícias abalaram o mercado (e me fizeram reescrever esta coluna). Não posso deixar de falar sobre a saída de John Galliano, que passou dez anos cuidando da Maison Margiela, e a entrada na Chanel de Matthieu Blazy, o parisiense que conseguiu captar a mulher milanesa para a Bottega Veneta.
Blazy, o estilista que sucederá Virginie Viard, tem experiência com o luxo, trabalho artesanal e, dentro do esperado, sabe valorizar e resgatar os arquivos de uma marca. Apesar de estar do outro lado da torcida — queria que Hedi Slimane assumisse o cargo —, tenho certeza de que construirá elos fortes entre todos os pontos necessários para dar vida à nova mulher Chanel, que já foi a missão de Karl Lagerfeld.
Por falar em sucessão em cargos que já foram de Lagerfeld, há boatos sobre Pierpaolo Piccioli, ex-Valentino, vir a assinar as criações de prêt-à-porter feminino e couture da romana Fendi. Pela frente, outras danças das cadeiras.
Há dúvida sobre a permanência de Maria Grazia Chiuri na Dior e também sobre para onde irão John Galliano e Hedi Slimane. Os dois soltos no mercado — e que, coincidentemente, já passaram seus crachás pelas catracas da Avenue Montaigne, em Paris, nos prédios da Dior.
Um momento de muitos talentos a serem realocados e fortes emoções no horizonte. Só espero que todos esses anúncios aconteçam depois que esta coluna esteja impressa.
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