Pensar o design através da conferência
A conferência é um dos meus formatos favoritos de pensar o design. São o meu local favorito para testar ideias que ainda só se conseguem ver pelo canto do olho. A melhor maneira de preparar uma conferência é ter os factos bem alinhados. A seguir, escolhe-se uma sequência de imagens, possíveis transições de assunto, alguns […]
A conferência é um dos meus formatos favoritos de pensar o design. São o meu local favorito para testar ideias que ainda só se conseguem ver pelo canto do olho. A melhor maneira de preparar uma conferência é ter os factos bem alinhados. A seguir, escolhe-se uma sequência de imagens, possíveis transições de assunto, alguns «choques». No fim, tudo isto só é uma preparação no sentido em que se prepara uma tela para pintar. É um suporte para algo que é, essencialmente, improvisado.
Uma conferência só me corre realmente bem se tiver pensado ou dito algo novo.
Enquanto estudei era muito tímido. «Falava para dentro». Obriguei-me a contrariar esse tique nas aulas. A solução foi atirar-me de cabeça para as conferências.
Quando comecei, não havia muitas conferências de design em Portugal. Agora, há dúzias. Espera-se que um aluno de design dê umas tantas, principalmente se está num mestrado ou doutoramento. O formato mais comum é mau. Deriva de como o ensino superior se tornou uma linha de montagem. Entre três minutos e um quarto de hora por apresentação, num esquema prevísivel e pouco entusiasmante. Não são feitas para pensar, mas para serem avaliadas.
Em 2011, fui convidado pelo Miguel Wandschneider para dar um ciclo de seis conferências na Culturgest. Tirando o tema geral («Publicações»), tive toda a liberdade. Foi um sonho que nem sabia que tinha. Foi como uma mini-cadeira, com a diferença que não precisava de avaliar ninguém. Nem era avaliado.
Fui pago para pensar em público — o emprego de sonho. As conferências nas universidades não passam de sombras disto. As aulas, idem.
Como explicar a diferença? Uma conferência não se prepara para caber em três minutos. Deve ser praticada como um acto de respeito pela comunidade. Talvez o estado de espírito ideal seja o de um concerto dado por um velho punk, ao qual, depois de tudo, só sobrou a espiritualidade crua desse movimento. Dar uma conferência como quem prega, e pregar como alguém que se perde para se encontrar.