Startup alemã quer congelar clientes após a morte para lhes dar uma ‘segunda vida’. Custo? 194 mil euros
Uma pequena ambulância estacionada no centro de Berlim, com cabos que se destacam no teto, representa um conceito audacioso e uma ambição que parece saída de um filme futurista: a promessa de uma segunda vida após a morte.
Uma pequena ambulância estacionada no centro de Berlim, com cabos que se destacam no teto, representa um conceito audacioso e uma ambição que parece saída de um filme futurista: a promessa de uma segunda vida após a morte. É essa a missão a que se propõe a Tomorrow.Bio, o primeiro laboratório de criogenia da Europa.
Por 200 mil dólares (cerca de 194 mil euros), a startup alemã oferece a possibilidade de congelar pacientes após a morte, na esperança de trazê-los de volta à vida no futuro.
Mas como funciona? Quando um paciente terminal é identificado, a Tomorrow.Bio envia a sua ambulância equipada. Assim que há a confirmação legal de óbito, o corpo é transferido para o interior do veículo de forma a iniciar o procedimento de criogenia. Ou seja, os corpos são congelados a temperaturas abaixo de zero e recebem um fluído crioprotetor – composto por substâncias como dimetilsulfóxido e etilenoglicol – para evitar a formação de cristais de gelo, que poderiam danificar os tecidos. Em seguida, são lentamente arrefecidos até 196 °C negativos e enviados para armazenamento na Suíça, onde aguardarão avanços tecnológicos que sejam capazes de curar as suas condições.
Apesar da crescente procura – com cerca de 700 inscritos e três pacientes já preservados –, a criogenia é alvo de ceticismo. Até hoje, nenhum ser humano voltou à vida com sucesso, e especialistas como Clive Coen, professor de neurociências no King’s College London, questionam a viabilidade do conceito. Para Coen, a degradação celular iniciada após a morte é irreversível e a promessa de uma segunda vida é mais fé do que ciência.
Mesmo assim, Emil Kendziorra, cofundador da Tomorrow.Bio, acredita que os avanços na nanotecnologia e no mapeamento cerebral podem superar esses obstáculos. Para ele, a resistência à criogenia é comparável às dúvidas iniciais quando surgiram os primeiros transplantes de órgãos.
A criogenia insere-se no crescente mercado de extensão da vida, que atrai clientes curiosos com a possibilidade de explorar o futuro. Louise Harrison, 51 anos, é uma das inscritas. Para ela, a ideia de voltar à vida é uma forma de “viagem no tempo”.
A Tomorrow.Bio também espera expandir a sua atuação para os EUA em 2025 e, até 2028, avançar em duas metas ambiciosas: preservar a estrutura neural e desenvolver a preservação reversível abaixo de zero.
Enquanto não há garantias de sucesso, a Tomorrow.Bio aposta num argumento simples: a probabilidade de voltar à vida é maior do que a da cremação. Para aqueles que podem pagar, é uma hipótese única de desafiar o inevitável. E, para Kendziorra, vale mais tentar do que aceitar o fim sem questionar.