Europa e Mercosul: a escolha entre a relevância e a irrelevância
A chance de criar o maior espaço econômico do mundo está nas mãos da União Europeia e do Mercosul. Mas parece que certos políticos europeus ainda não perceberam que esse acordo não é um favor aos latinos.
Se há algo que os europeus deveriam ter aprendido nos últimos vinte anos, é que o mundo não espera por quem hesita. O tempo em que a Europa podia ditar as regras da economia global acabou. Agora, ou ela se insere no jogo com blocos de força similar, ou passará as próximas décadas mendigando espaço entre Washington e Pequim. O mesmo vale para a América do Sul: ou encontra uma forma de consolidar seu papel como mercado emergente relevante, ou voltará ao papel de quintal de potências.
A chance de criar o maior espaço econômico do mundo está nas mãos da União Europeia e do Mercosul. Mas parece que certos políticos europeus – especialmente na França, na Hungria e na Itália – ainda não perceberam que esse acordo não é um favor aos latinos, mas a única saída possível para a sobrevivência econômica e estratégica da própria Europa.
Em Paris, a resistência vem do agronegócio e de uma classe política que ainda acredita na mística da autossuficiência. A ideia de proteger os agricultores franceses do mercado sul-americano é, na prática, condenar a própria indústria francesa à irrelevância. Sem esse acordo, a França não terá como competir nem com os americanos, que impõem sua tecnologia e produtos a qualquer custo, nem com os chineses, que oferecem preços imbatíveis.
Na Hungria, Viktor Orbán gosta de falar sobre soberania, sobre uma Europa que decide seu próprio destino. Mas, enquanto isso, sua economia se torna cada vez mais dependente da China. Carros elétricos, baterias, semicondutores: Pequim já tem presença forte na indústria húngara. Sem o acordo com o Mercosul, os húngaros não terão outra opção a não ser aprofundar essa dependência.
Giorgia Meloni tenta equilibrar seu discurso entre soberania econômica e pragmatismo político. Mas a Itália é um dos países que mais têm a ganhar com o acordo UE-Mercosul. O país tem uma indústria de alimentos, moda e maquinário que pode explodir de vendas na América do Sul. Bloquear esse acordo por pressão de setores agrícolas internos é um suicídio econômico.
Enquanto os políticos europeus resistem ao acordo, os chineses assinam tratados comerciais em todo o mundo. Os americanos fecham pacotes bilionários de incentivos para suas empresas. E a América do Sul? Se não fechar com a Europa, cedo ou tarde será absorvida por uma das superpotências.
A escolha da Europa não é entre assinar ou não assinar o acordo com o Mercosul. A escolha é entre ser protagonista ou figurante na geopolítica mundial.
“A política é a arte do possível. Mas o impossível só existe para quem desiste antes da luta.” – Ulysses Guimarães