Churchill: um herói do século XX
«De entre as figuras que se impuseram no século XX, fosse para o bem ou para o mal, Winston Churchill foi a mais importante para a humanidade, e foi também a mais amável de todas. Não há outra personalidade da qual se possam extrair tantas lições, em especial para a juventude: a tirar partido de uma infância difícil; a aproveitar ao máximo todas as oportunidades, físicas, morais e intelectuais; a ousar em grande, para reforçar o êxito e ultrapassar os inevitáveis fracassos; e a ter ambições elevadas, aplicando-lhes toda a energia e paixão, sem deixar de cultivar a amizade, a generosidade, a compaixão e a elevação moral.» Paul Johnson, Churchill Winston Spencer Churchill, filho de um aristocrata inglês e de uma beldade norte-americana, recebeu notas medíocres como estudante e jamais foi tratado com afecto pelo pai, um indivíduo propenso a depressões. Tinha todos os requisitos para ser considerado uma "criança problemática", de acordo com um jargão agora muito em voga, mas foi o mais bem sucedido político britânico de todos os tempos. Era, simultaneamente, um homem de reflexão e um homem de acção. Escreveu excelentes obras, como The World Crisis (1923/27) e Aftermath (1929). Os seis volumes das suas memórias sobre a II Guerra Mundial - na qual foi um dos grandes protagonistas -, concluídos em 1951, tinham vendido mais de seis milhões de exemplares só em língua inglesa dois anos mais tarde, quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura. Pintou mais de 500 quadros - «mais do que muitos pintores chegaram a pintar em toda a vida», como acentuou Paul Johnson na biografia do homem que foi deputado durante 55 anos, ministro (do Interior, da Marinha, das Colónias e das Finanças) durante 31 e primeiro-ministro - em dois mandatos - durante quase nove. Morreu cumprem-se hoje seis décadas, aos 90 anos, após uma vida intensa: combateu como militar em 15 batalhas em quatro continentes (Cuba, Índia, Sudão, África do Sul na guerra dos Boers e Flandres durante a I Guerra Mundial) e recebeu 14 condecorações de guerra. Viu a morte várias vezes à sua frente, mas nunca perdeu a alegria de viver. Publicou quase dez milhões de palavras («mais do que muitos escritores profissionais publicam ao longo de toda a vida»), teve um casamento feliz que durou 56 anos e terá bebido perto de 20 mil garrafas de champanhe, a sua bebida favorita. Expressões hoje de uso corrente foram cunhadas ou popularizadas por ele - Médio Oriente, Cortina de Ferro, "sangue, suor e lágrimas". Foi o primeiro político a fazer com os dedos o V da vitória, gesto que quase todos os outros depois dele adoptaram. Era um grande caçador e um viajante infatigável: deu várias vezes a volta ao mundo. Desportista, praticou pólo até aos 53 anos. Não escondia o fascínio pelo cinema. Adorava conduzir e tinha brevet de aviador. Cometeu muitos erros, mas acertou nas opções essenciais. Como quando levantou a sua voz solitária no Reino Unido contra o avanço das hordas nazis que na década de 30 iam devorando a Europa, país após país. Ou quando criticou sem reservas o seu antecessor, Neville Chamberlain, adepto do "apaziguamento" com Hitler. «Toda a história do mundo teria sido diferente se ele não tivesse assumido o poder em 1940», assinalou o jornalista John Simpson na BBC. Disfrutava de autoridade natural mas nunca se levou excessivamente a sério: no auge do seu poder, todos os britânicos lhe chamavam Winston. Se existem figuras exemplares, Churchill foi uma delas. «Era um homem de coragem, que é a mais importante de todas as virtudes, e um homem de fortaleza, que é a companheira da coragem - recursos que são inatos, mas que também podem ser cultivados, e que Churchill cultivou toda a vida», escreveu Paul Johnson na excelente biografia do homem que se bateu quase isolado contra Hitler. O historiador britânico era admirador confesso de Churchill, com quem se cruzou uma vez, quando tinha apenas 17 anos. Foi em 1946. O então adolescente perguntou-lhe: «Senhor Churchill, a que atribui o sucesso que teve na vida?» Resposta pronta do político que no ano anterior emergira como um dos vencedores da II Guerra Mundial: «À conservação da energia. Nunca se levante se pode estar sentado, nunca se sente se pode estar deitado.» Liberal de sempre, Churchill nunca se deixou abater pelos desaires e costumava dizer, cheio de razão: «Não há nada mais esgotante do que o ódio.» Na biografia que lhe dedicou (Churchill, Alêtheia, 2010) Johnson prestou justiça àquele que foi talvez o maior tribuno parlamentar do século XX, dotado de uma eloquência que nunca deixou de ser temperada com uma pitada de humor. Mesmo nos momentos mais dramáticos, como sucedeu a 4 de Junho de 1940, ao discursar na Câmara dos Comuns na qualidade de recém-empossado primeiro-ministro, já com Paris ocupada pelas tropas nazis. «Lutaremos nas praias, lutaremos nas pistas de aterragem, lutaremos nos campos e nas cidades, lutaremos nas montanhas. Lutaremos sem jamais nos rendermos», afirmou, numa alocução que se tornou célebr
«De entre as figuras que se impuseram no século XX, fosse para o bem ou para o mal, Winston Churchill foi a mais importante para a humanidade, e foi também a mais amável de todas. Não há outra personalidade da qual se possam extrair tantas lições, em especial para a juventude: a tirar partido de uma infância difícil; a aproveitar ao máximo todas as oportunidades, físicas, morais e intelectuais; a ousar em grande, para reforçar o êxito e ultrapassar os inevitáveis fracassos; e a ter ambições elevadas, aplicando-lhes toda a energia e paixão, sem deixar de cultivar a amizade, a generosidade, a compaixão e a elevação moral.»
Paul Johnson, Churchill
Winston Spencer Churchill, filho de um aristocrata inglês e de uma beldade norte-americana, recebeu notas medíocres como estudante e jamais foi tratado com afecto pelo pai, um indivíduo propenso a depressões. Tinha todos os requisitos para ser considerado uma "criança problemática", de acordo com um jargão agora muito em voga, mas foi o mais bem sucedido político britânico de todos os tempos.
Era, simultaneamente, um homem de reflexão e um homem de acção. Escreveu excelentes obras, como The World Crisis (1923/27) e Aftermath (1929). Os seis volumes das suas memórias sobre a II Guerra Mundial - na qual foi um dos grandes protagonistas -, concluídos em 1951, tinham vendido mais de seis milhões de exemplares só em língua inglesa dois anos mais tarde, quando recebeu o Prémio Nobel da Literatura. Pintou mais de 500 quadros - «mais do que muitos pintores chegaram a pintar em toda a vida», como acentuou Paul Johnson na biografia do homem que foi deputado durante 55 anos, ministro (do Interior, da Marinha, das Colónias e das Finanças) durante 31 e primeiro-ministro - em dois mandatos - durante quase nove.
Morreu cumprem-se hoje seis décadas, aos 90 anos, após uma vida intensa: combateu como militar em 15 batalhas em quatro continentes (Cuba, Índia, Sudão, África do Sul na guerra dos Boers e Flandres durante a I Guerra Mundial) e recebeu 14 condecorações de guerra. Viu a morte várias vezes à sua frente, mas nunca perdeu a alegria de viver. Publicou quase dez milhões de palavras («mais do que muitos escritores profissionais publicam ao longo de toda a vida»), teve um casamento feliz que durou 56 anos e terá bebido perto de 20 mil garrafas de champanhe, a sua bebida favorita.
Expressões hoje de uso corrente foram cunhadas ou popularizadas por ele - Médio Oriente, Cortina de Ferro, "sangue, suor e lágrimas". Foi o primeiro político a fazer com os dedos o V da vitória, gesto que quase todos os outros depois dele adoptaram. Era um grande caçador e um viajante infatigável: deu várias vezes a volta ao mundo. Desportista, praticou pólo até aos 53 anos. Não escondia o fascínio pelo cinema. Adorava conduzir e tinha brevet de aviador.
Cometeu muitos erros, mas acertou nas opções essenciais. Como quando levantou a sua voz solitária no Reino Unido contra o avanço das hordas nazis que na década de 30 iam devorando a Europa, país após país. Ou quando criticou sem reservas o seu antecessor, Neville Chamberlain, adepto do "apaziguamento" com Hitler. «Toda a história do mundo teria sido diferente se ele não tivesse assumido o poder em 1940», assinalou o jornalista John Simpson na BBC.
Disfrutava de autoridade natural mas nunca se levou excessivamente a sério: no auge do seu poder, todos os britânicos lhe chamavam Winston.
Se existem figuras exemplares, Churchill foi uma delas. «Era um homem de coragem, que é a mais importante de todas as virtudes, e um homem de fortaleza, que é a companheira da coragem - recursos que são inatos, mas que também podem ser cultivados, e que Churchill cultivou toda a vida», escreveu Paul Johnson na excelente biografia do homem que se bateu quase isolado contra Hitler.
O historiador britânico era admirador confesso de Churchill, com quem se cruzou uma vez, quando tinha apenas 17 anos. Foi em 1946. O então adolescente perguntou-lhe: «Senhor Churchill, a que atribui o sucesso que teve na vida?» Resposta pronta do político que no ano anterior emergira como um dos vencedores da II Guerra Mundial: «À conservação da energia. Nunca se levante se pode estar sentado, nunca se sente se pode estar deitado.»
Liberal de sempre, Churchill nunca se deixou abater pelos desaires e costumava dizer, cheio de razão: «Não há nada mais esgotante do que o ódio.»
Na biografia que lhe dedicou (Churchill, Alêtheia, 2010) Johnson prestou justiça àquele que foi talvez o maior tribuno parlamentar do século XX, dotado de uma eloquência que nunca deixou de ser temperada com uma pitada de humor. Mesmo nos momentos mais dramáticos, como sucedeu a 4 de Junho de 1940, ao discursar na Câmara dos Comuns na qualidade de recém-empossado primeiro-ministro, já com Paris ocupada pelas tropas nazis. «Lutaremos nas praias, lutaremos nas pistas de aterragem, lutaremos nos campos e nas cidades, lutaremos nas montanhas. Lutaremos sem jamais nos rendermos», afirmou, numa alocução que se tornou célebre.
Logo acrescentando, num aparte em sotto voce: «E lutaremos com ancinhos e vassouras porque não teremos mais nada.»
Winston era assim.