Aprofundando o efeito Estética-Usabilidade: entendendo (de verdade) esse conceito

Se você tivesse que escolher entre melhorar a usabilidade e melhorar a estética de seu produto, o que você escolheria?Feita com imgflip.comComecemos com uma reflexão: você já clicou em um site porque ele parecia bonitão, mas saiu correndo porque não entendia como usar? Ou entrou num site com aquele layout dos anos 2000 e achou que era vírus?A velha máxima “o que é bonito é usável” é discutida e debatida por designers e HCI (Interação Humano-Computador ou Human-Computer Interaction) há décadas, literalmente. Mas será que isso realmente é válido?Spoilers: Não. Ou não exatamente, pelo menos.Antes disso, tenho que dizer que você não está tendo um dejá-vù: já escrevi um artigo sobre isso antes.Dessa vez, quero aprofundar ainda mais o tema, trazendo mais alguns artigos que encontrei — e também trazendo um pouco mais da minha própria visão como UX/UI e Product Designer que adquiri desde que escrevi o último artigo.­Exploração do conceitoPesquisas clássicas, como as de Tractinsky et al. (2000), argumentam que interfaces visualmente atraentes podem criar uma “aura” positiva, gerando uma percepção de usabilidade elevada mesmo antes de qualquer interação prática.Imagine que é algo muito parecido com o efeito Halo, uma "aura radiante" que costuma ser sentida nas pessoas.Esse efeito, frequentemente associado ao halo effect (efeito halo), sugere que opiniões iniciais sobre a beleza de uma interface podem influenciar outras dimensões de avaliação, como eficiência ou facilidade de uso. Isso implica que, ao primeiro olhar (e isso é muito importante) “o que é bonito é usável”.Mas outros estudos, como os de Tuch et al. (2012) e van Schaik e Ling (2008), mostram que a relação entre estética e usabilidade é bem mais complexa, principalmente quando o usuário começa a interagir de verdade com o sistema.E esse é um aspecto negligenciado sempre que falamos sobre esse efeito:De que ponto da experiência estamos falando ao dizer que o bonito é usável?Se para você também parecia meio “ué” o conceito ser usado sem falar disso, boas-vindas ao clube.­Antes e depois do usoUm ponto interessante que emerge da literatura (Lee e Koubek, 2010) é a diferença entre a percepção antes e depois do uso.Antes de usar, a aparência pode ser um fator dominante. Mas, depois de interagir com o sistema, aspectos como navegabilidade, eficiência e esforço mental se tornam decisivos.Antes, temos que:Estudos, como o de Schenkman e Jönsson (2000), mostraram que, antes da interação prática, a estética domina o julgamento. Em experimentos com páginas da web, os participantes frequentemente basearam sua preferência na beleza percebida, mesmo sem explorar a funcionalidade da interface. Essa fase está muito ligada ao impacto emocional inicial, onde cores, tipografia e organização visual criam uma primeira impressão que pode atrair ou afastar o usuário.­Enquanto depois:Lee e Koubek (2010) destacam que a percepção de usabilidade e a estética continuam interligadas, mas, após o uso, fatores como clareza na disposição das informações e facilidade de aprendizado passam a pesar mais no julgamento final. Em sistemas complexos, como intranets ou softwares empresariais, a estética inicial pode ser completamente ofuscada por problemas de usabilidade identificados durante a interação.­O elo entre estética e usabilidadeQuem leu meu artigo original sobre esse efeito, já sabe qual é a conclusão geral que tive: é impossível dizer o sentido da relação entre a estética e usabilidade.A usabilidade influência a beleza, tanto quanto a beleza influencia a usabilidade. Mas avisei que ia trazer coisa nova, né?Uma “descoberta” recente (Schrepp et al., 2020) mostra que o segredo para entender a relação entre estética e usabilidade está em um conceito chamado clareza visual.Imagine uma interface onde tudo parece estar no lugar: elementos alinhados, simetria impecável e uma hierarquia chuchu beleza. Essa organização não só melhora a percepção de estética, como também facilita a navegação e aumenta a eficiência do uso.Exemplo prático:Pense em um e-commerce, qualquer um.Se os produtos estão bem categorizados, com filtros acessíveis e informações objetivas e direcionadas, isso cria uma impressão de ordem e beleza.Essa clareza pode levar o usuário a associar o design "bonitinho e organizado" à facilidade de uso, mesmo antes de interagir de fato com o site.­Para fecharDepois de toda essa conversa, fica claro que não dá pra dizer que “o que é bonito é usável” sem uma belíssima dose de contexto.O bonito pode atrair, mas não sustenta. E a usabilidade pode engajar, mas não encanta sozinha.Sim, designer: você tem que fazer as benditas “telas bonitinhas”. Mas além de bonitinhas, elas têm que entregar o que o usuário precisa, na hora em que precisa.No fim, o ponto aqui não é escolher entre beleza e funcionalidade, mas entender que o equilíbrio entre essas duas dimensões é o verdadeiro game-changer para quem trabalha com UX, UI e/ou produto.A estética pode ser a porta de entrada, mas é a usabilidade que fa

Jan 17, 2025 - 15:17
Aprofundando o efeito Estética-Usabilidade: entendendo (de verdade) esse conceito

Se você tivesse que escolher entre melhorar a usabilidade e melhorar a estética de seu produto, o que você escolheria?

Um meme com duas opções representadas por botões vermelhos. O primeiro botão diz “Melhorar Usabilidade”, e o segundo “Melhorar Estética”. Um personagem suado, representando um designer de UX/UI, está indeciso sobre qual botão apertar.
Feita com imgflip.com

Comecemos com uma reflexão: você já clicou em um site porque ele parecia bonitão, mas saiu correndo porque não entendia como usar? Ou entrou num site com aquele layout dos anos 2000 e achou que era vírus?

A velha máxima “o que é bonito é usável” é discutida e debatida por designers e HCI (Interação Humano-Computador ou Human-Computer Interaction) há décadas, literalmente. Mas será que isso realmente é válido?

Spoilers: Não. Ou não exatamente, pelo menos.

Antes disso, tenho que dizer que você não está tendo um dejá-vù: já escrevi um artigo sobre isso antes.

Dessa vez, quero aprofundar ainda mais o tema, trazendo mais alguns artigos que encontrei — e também trazendo um pouco mais da minha própria visão como UX/UI e Product Designer que adquiri desde que escrevi o último artigo.

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Exploração do conceito

Pesquisas clássicas, como as de Tractinsky et al. (2000), argumentam que interfaces visualmente atraentes podem criar uma “aura” positiva, gerando uma percepção de usabilidade elevada mesmo antes de qualquer interação prática.

Uma silhueta de uma pessoa iluminada por uma luz dourada e cercada por engrenagens desfocadas, simbolizando conceitos como ciclos circadianos, saúde e conexão entre luz natural e bem-estar.
Imagine que é algo muito parecido com o efeito Halo, uma "aura radiante" que costuma ser sentida nas pessoas.

Esse efeito, frequentemente associado ao halo effect (efeito halo), sugere que opiniões iniciais sobre a beleza de uma interface podem influenciar outras dimensões de avaliação, como eficiência ou facilidade de uso. Isso implica que, ao primeiro olhar (e isso é muito importante) “o que é bonito é usável”.

Mas outros estudos, como os de Tuch et al. (2012) e van Schaik e Ling (2008), mostram que a relação entre estética e usabilidade é bem mais complexa, principalmente quando o usuário começa a interagir de verdade com o sistema.

E esse é um aspecto negligenciado sempre que falamos sobre esse efeito:

De que ponto da experiência estamos falando ao dizer que o bonito é usável?

Se para você também parecia meio “ué” o conceito ser usado sem falar disso, boas-vindas ao clube.

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Antes e depois do uso

Um ponto interessante que emerge da literatura (Lee e Koubek, 2010) é a diferença entre a percepção antes e depois do uso.

Antes de usar, a aparência pode ser um fator dominante. Mas, depois de interagir com o sistema, aspectos como navegabilidade, eficiência e esforço mental se tornam decisivos.

Antes, temos que:

Estudos, como o de Schenkman e Jönsson (2000), mostraram que, antes da interação prática, a estética domina o julgamento. Em experimentos com páginas da web, os participantes frequentemente basearam sua preferência na beleza percebida, mesmo sem explorar a funcionalidade da interface. Essa fase está muito ligada ao impacto emocional inicial, onde cores, tipografia e organização visual criam uma primeira impressão que pode atrair ou afastar o usuário.

­

Enquanto depois:

Lee e Koubek (2010) destacam que a percepção de usabilidade e a estética continuam interligadas, mas, após o uso, fatores como clareza na disposição das informações e facilidade de aprendizado passam a pesar mais no julgamento final. Em sistemas complexos, como intranets ou softwares empresariais, a estética inicial pode ser completamente ofuscada por problemas de usabilidade identificados durante a interação.

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O elo entre estética e usabilidade

Quem leu meu artigo original sobre esse efeito, já sabe qual é a conclusão geral que tive: é impossível dizer o sentido da relação entre a estética e usabilidade.

A usabilidade influência a beleza, tanto quanto a beleza influencia a usabilidade. Mas avisei que ia trazer coisa nova, né?

Uma “descoberta” recente (Schrepp et al., 2020) mostra que o segredo para entender a relação entre estética e usabilidade está em um conceito chamado clareza visual.

Imagine uma interface onde tudo parece estar no lugar: elementos alinhados, simetria impecável e uma hierarquia chuchu beleza. Essa organização não só melhora a percepção de estética, como também facilita a navegação e aumenta a eficiência do uso.

Exemplo prático:

Pense em um e-commerce, qualquer um.
Se os produtos estão bem categorizados, com filtros acessíveis e informações objetivas e direcionadas, isso cria uma impressão de ordem e beleza.
Essa clareza pode levar o usuário a associar o design "bonitinho e organizado" à facilidade de uso, mesmo antes de interagir de fato com o site.

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Para fechar

Depois de toda essa conversa, fica claro que não dá pra dizer que “o que é bonito é usável” sem uma belíssima dose de contexto.

O bonito pode atrair, mas não sustenta. E a usabilidade pode engajar, mas não encanta sozinha.

Sim, designer: você tem que fazer as benditas “telas bonitinhas”. Mas além de bonitinhas, elas têm que entregar o que o usuário precisa, na hora em que precisa.

No fim, o ponto aqui não é escolher entre beleza e funcionalidade, mas entender que o equilíbrio entre essas duas dimensões é o verdadeiro game-changer para quem trabalha com UX, UI e/ou produto.

A estética pode ser a porta de entrada, mas é a usabilidade que faz o usuário querer ficar ao invés de sair correndo.

E a clareza visual, como vimos, parece um termo guarda-chuva que conecta ambas bem o suficiente.

Seja você um designer, produteiro ou só alguém curioso sobre o tema, o resumão é: não tente subestimar o impacto das primeiras impressões e nunca ignore o peso da experiência real.