A democracia para além do voto

Uma questão que se coloca a respeito das últimas eleições ocorridas no mundo é por que a esquerda está perdendo. Desde 2023, importantes governos de esquerda ou de centro tiveram que ceder o poder à oposição, analisa Miguel Lago na edição deste mês da piauí. Foi assim na Argentina, em Portugal, nos Estados Unidos e, mais recentemente, na Alemanha – a coalizão de esquerda e centro surpreendeu pela queda precoce. No Reino Unido, os trabalhistas venceram os conservadores, mas o voto para a esquerda foi menor que em 2019. Na França, apesar da vitória parcial da esquerda nas eleições legislativas convocadas por Emmanuel Macron, o presidente se recusou a nomear um primeiro-ministro desse campo político. No Brasil, a coalizão governista teve um desempenho pífio nas eleições municipais. Ainda que o grande vencedor do pleito de 2024, no conjunto, seja o chamado Centrão, nas grandes cidades o vitorioso foi o PL de Jair Bolsonaro, presente na maioria dos segundos turnos. Nos Estados Unidos, Donald Trump obteve uma vitória inequívoca, arrebatando a Presidência, o Senado e a Câmara dos Deputados, além de ter nas mãos a chance de ampliar sua maioria na Suprema Corte. The post A democracia para além do voto first appeared on revista piauí.

Jan 19, 2025 - 18:16
A democracia para além do voto

Uma questão que se coloca a respeito das últimas eleições ocorridas no mundo é por que a esquerda está perdendo. Desde 2023, importantes governos de esquerda ou de centro tiveram que ceder o poder à oposição, analisa Miguel Lago na edição deste mês da piauí. Foi assim na Argentina, em Portugal, nos Estados Unidos e, mais recentemente, na Alemanha – a coalizão de esquerda e centro surpreendeu pela queda precoce. No Reino Unido, os trabalhistas venceram os conservadores, mas o voto para a esquerda foi menor que em 2019. Na França, apesar da vitória parcial da esquerda nas eleições legislativas convocadas por Emmanuel Macron, o presidente se recusou a nomear um primeiro-ministro desse campo político.

No Brasil, a coalizão governista teve um desempenho pífio nas eleições municipais. Ainda que o grande vencedor do pleito de 2024, no conjunto, seja o chamado Centrão, nas grandes cidades o vitorioso foi o PL de Jair Bolsonaro, presente na maioria dos segundos turnos. Nos Estados Unidos, Donald Trump obteve uma vitória inequívoca, arrebatando a Presidência, o Senado e a Câmara dos Deputados, além de ter nas mãos a chance de ampliar sua maioria na Suprema Corte.

Diante desses eventos, fica a impressão de que a esquerda está sendo solapada, e que grande parte do mundo se voltou para a direita (ou até para a extrema direita). Os principais jornais dos Estados Unidos e do Brasil têm buscado explicar a queda dos progressistas. Analistas políticos sugerem que a vitória de Trump “demonstra que o eleitorado é de direita” ou que o grande derrotado, de fato, é um setor hoje influente dentro do progressismo: a “esquerda canceladora”.

 

Há quem afirme, inclusive, que a esquerda se preocupa exclusivamente em usar o Estado para defender identidades subalternizadas – as chamadas minorias –, tendo abandonado completamente as demandas de melhoria de vida e de poder de compra da classe trabalhadora. Assim, prescreve-se, inclusive, que caso a esquerda tivesse sido mais moderada, teria conquistado os eleitores de centro e os indecisos, inclusive nas eleições americanas.

O problema, entretanto, pode ser outro. Desde o século XIX, estamos presos a dois conceitos políticos interconectados: as eleições por meio do voto e o Estado-Nação. O primeiro consiste em um mecanismo de alternância pacífica de poder entre elites. O segundo restringe o locus da política a uma nação e a um território. O completo desprendimento do dispositivo do voto dos motivos que o levaram a ser criado e a transformação desse recurso político num fim em si mesmo podem ajudar a explicar a crise por que passamos. Se continuarmos nesse caminho, teremos figuras cada vez mais abjetas e absurdas dominando as eleições.

Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.

 

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