10 Considerações sobre Planeta Duplo, de Jack Vance ou palavras são mais perigosas que laseres
O blog Listas Literárias leu Planeta Duplo, de Jack Vance publicado por Francisco Alves Editora em 1979. Neste post confira as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro descubra por que as palavras neste livro são mais perigosas que armas laseres... 1 - Coisa boa ler obras há muito fora de circulação, não é mesmo? Essa é a graça de percorrermos feiras, sebos e saldões (vídeo aqui) em busca de leituras que já não circulam no mercado, caso de achado, uma publicação de um dos selos que marcou a Ficção Científica no Brasil. Mas enfim, essa é uma outra discussão, aqui nos voltamos à nossa análise desse livro que é quase um tratado de geopolítica espacial, com suas intrigas, cenários criativos e sociedades moldadas de formas distintas, todavia, todas elas marcadas pelo poder da linguagem;2 - Mas antes de prosseguirmos, devemos compartilhar que a nosso ver a Ficção Científica geralmente (ou quase sempre) carrega ares de estudos sociológicos, afinal, mais do que ação e invenções inovadoras, especulação de novas tecnologias, nesse gênero tão fantástico quase sempre sempre estará presente, seja em maior ou menor grau, a forma como as sociedades e as civilizações se organizam a partir da cultura. Planeta Duplo é ótimo exemplo disso, já que independente dos fatores astronômicos de planetas com órbitas peculiares, ou então da sensação de futuro de uma narrativa que ocorre num tempo de colonização espacial humana tão consolidada que a terra sequer é lembrança, o que move as personagens mesmo são as diferentes propostas de estruturações sociais que se revelam a partir dos povos que integram a narrativa, cada qual com sua postura, organização política e também seus pensamentos metafísicos, como os enigmáticos fontons;3 - O romance acompanha seu protagonista Jubal Droad, cuja etnia evoca ares rústicos e duros que contrastarãom com os habitantes da metrópole de Wysrod para onde irá e dará início à sua saga pessoal em busca de afirmação, fama e, claro, dinheiro. Jovem de postura firme e carregada de orgulho, sairá de suas terras porque em grande parte encontraremos no livro sociedades cujas organizações ecoam o medievo com suas casas e famílias nobres. Aliá, nobre em sua terra, um subalterno na metrópole, o protagonista precisará mostrar-se um tanto arguto em meio a uma série de maquinações e intrigas que ele acaba se envolvendo;4 - E curiosamente, embora hajam os momentos que a narração nos traga uma ação mais física, a ação, contudo está centralizada no poder da linguagem e do conhecimento dos subterfúgios das palavras. Independentemente do povo que surge na obra, as palavras, a comunicação é carregada de implícitos, de abstrações e figurações. A sensação que as palavras carregam armadilhas tanto para nelas cairmos, como para com ela armarmos nossas artimanhas. Tanto que temos um parlatório em destaque e a própria política de Fantaéria que entrega-nos sempre um jogo duplo, cujos discursos são medidos, mas, talvez sinal do tempo em que se escreve o romance, acabam sendo respeitados em situações inesperadas;5 - Na verdade esse é um detalhe interessante da construção de Vance. Embora os papéis (documentos) acabem se revelando relevantes, os personagens acabam moldados por certo cavalheirismo dos combates antigos, cujos tratados eram mantidos ou a negociação se desenrolava em meio a um campo de batalha onde bem se podia marcar um chá para debater a questão. Para o leitor de hoje os deste Planeta Duplo podem soar um tanto peculiares;6 - Quanto a essa característica discursiva da narrativam seu protagonista, Jubal Droad é exímio ártifice. O personagem é muito arguto mesmo movendo-se em lugares que não são o seu, naturalmente. É a apartir do discurso, o seja, da fala que desde sua chegada a Wysrod ele dá início à relação antagÔnica com Ramus Ymph, outro jovem ambicioso em busca de ascensão e poder. Construído o antagonismo, Jubal passa então a uma espécie de caça a Ramus numa vendetta nascida da vendetta de Ramus por certa vergonha lhe imposta por Droad. Embora combatentes entre si, como veremos ao final da narrativa, Ymph e Droad na verdade carregam muitas semelhanças, buscam por tornarem-se o mais importante ou poderoso que possam e talvez por tantas similaridades é que ebtama-se ferozmente;7 - Tudo isso correndo à moda de Wysrod, sob a superfície da oficialidade, já que a sociedade organiza-se em duas camadas, a superfície e o abaixo, onde as disputas de poder entre as casas é feroz e sempre a maquinar artimanhas para mais controle e em último caso poder. Droad passa a servir a uma dessas casas, a Héter, e colocado num curioso departamento, tornar-se-á um verdadeiro espião galáctico buscado informações acerca dos passos de Ymph;8 - É justamente a espionagem de Jubal Droad que em suas viagens abre espaço para os cenários e culturas fantásticas que vão surgindo. Aliás, fantasia e ficção científica costuma darem-se as mãos, o que nesse livro são mãos bem unidas. Isso porque os cenários, os povos e as criaturas que então vã
O blog Listas Literárias leu Planeta Duplo, de Jack Vance publicado por Francisco Alves Editora em 1979. Neste post confira as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro descubra por que as palavras neste livro são mais perigosas que armas laseres...
1 - Coisa boa ler obras há muito fora de circulação, não é mesmo? Essa é a graça de percorrermos feiras, sebos e saldões (vídeo aqui) em busca de leituras que já não circulam no mercado, caso de achado, uma publicação de um dos selos que marcou a Ficção Científica no Brasil. Mas enfim, essa é uma outra discussão, aqui nos voltamos à nossa análise desse livro que é quase um tratado de geopolítica espacial, com suas intrigas, cenários criativos e sociedades moldadas de formas distintas, todavia, todas elas marcadas pelo poder da linguagem;
2 - Mas antes de prosseguirmos, devemos compartilhar que a nosso ver a Ficção Científica geralmente (ou quase sempre) carrega ares de estudos sociológicos, afinal, mais do que ação e invenções inovadoras, especulação de novas tecnologias, nesse gênero tão fantástico quase sempre sempre estará presente, seja em maior ou menor grau, a forma como as sociedades e as civilizações se organizam a partir da cultura. Planeta Duplo é ótimo exemplo disso, já que independente dos fatores astronômicos de planetas com órbitas peculiares, ou então da sensação de futuro de uma narrativa que ocorre num tempo de colonização espacial humana tão consolidada que a terra sequer é lembrança, o que move as personagens mesmo são as diferentes propostas de estruturações sociais que se revelam a partir dos povos que integram a narrativa, cada qual com sua postura, organização política e também seus pensamentos metafísicos, como os enigmáticos fontons;
3 - O romance acompanha seu protagonista Jubal Droad, cuja etnia evoca ares rústicos e duros que contrastarãom com os habitantes da metrópole de Wysrod para onde irá e dará início à sua saga pessoal em busca de afirmação, fama e, claro, dinheiro. Jovem de postura firme e carregada de orgulho, sairá de suas terras porque em grande parte encontraremos no livro sociedades cujas organizações ecoam o medievo com suas casas e famílias nobres. Aliá, nobre em sua terra, um subalterno na metrópole, o protagonista precisará mostrar-se um tanto arguto em meio a uma série de maquinações e intrigas que ele acaba se envolvendo;
4 - E curiosamente, embora hajam os momentos que a narração nos traga uma ação mais física, a ação, contudo está centralizada no poder da linguagem e do conhecimento dos subterfúgios das palavras. Independentemente do povo que surge na obra, as palavras, a comunicação é carregada de implícitos, de abstrações e figurações. A sensação que as palavras carregam armadilhas tanto para nelas cairmos, como para com ela armarmos nossas artimanhas. Tanto que temos um parlatório em destaque e a própria política de Fantaéria que entrega-nos sempre um jogo duplo, cujos discursos são medidos, mas, talvez sinal do tempo em que se escreve o romance, acabam sendo respeitados em situações inesperadas;
5 - Na verdade esse é um detalhe interessante da construção de Vance. Embora os papéis (documentos) acabem se revelando relevantes, os personagens acabam moldados por certo cavalheirismo dos combates antigos, cujos tratados eram mantidos ou a negociação se desenrolava em meio a um campo de batalha onde bem se podia marcar um chá para debater a questão. Para o leitor de hoje os deste Planeta Duplo podem soar um tanto peculiares;
6 - Quanto a essa característica discursiva da narrativam seu protagonista, Jubal Droad é exímio ártifice. O personagem é muito arguto mesmo movendo-se em lugares que não são o seu, naturalmente. É a apartir do discurso, o seja, da fala que desde sua chegada a Wysrod ele dá início à relação antagÔnica com Ramus Ymph, outro jovem ambicioso em busca de ascensão e poder. Construído o antagonismo, Jubal passa então a uma espécie de caça a Ramus numa vendetta nascida da vendetta de Ramus por certa vergonha lhe imposta por Droad. Embora combatentes entre si, como veremos ao final da narrativa, Ymph e Droad na verdade carregam muitas semelhanças, buscam por tornarem-se o mais importante ou poderoso que possam e talvez por tantas similaridades é que ebtama-se ferozmente;
7 - Tudo isso correndo à moda de Wysrod, sob a superfície da oficialidade, já que a sociedade organiza-se em duas camadas, a superfície e o abaixo, onde as disputas de poder entre as casas é feroz e sempre a maquinar artimanhas para mais controle e em último caso poder. Droad passa a servir a uma dessas casas, a Héter, e colocado num curioso departamento, tornar-se-á um verdadeiro espião galáctico buscado informações acerca dos passos de Ymph;
8 - É justamente a espionagem de Jubal Droad que em suas viagens abre espaço para os cenários e culturas fantásticas que vão surgindo. Aliás, fantasia e ficção científica costuma darem-se as mãos, o que nesse livro são mãos bem unidas. Isso porque os cenários, os povos e as criaturas que então vão nos sendo expostas lembram-nos bastante a fantasia e carregam algo de "mágico". Isso está mais presente nas partes finais, quando as coisas começam a solucinarem-se e Droad está próximo de elucidar, ao menos em parte, as intenções do opositor. Quando ambos estão em Fonton entramos com os dois pés na fantasia diante um povo misterioso e místico que deixará Droad esquivo se sem saber muito bem como explicar as experiências que passa nesse lugar;
9 - Dito tudo isso, o que na verdade Jubal faz é percorrer por diferentes culturas. De certa forma o romance fala de choques culturais, como Eiselbar um planeta dos mais imaginativos que a certo modo antecipam elementos que Nosedive de Black Mirror trata sobre nós aqui na terra. Um lugar permissivo com turistas, marcado pelas emoções positivas e estruturado a partir da música. Na verdade, o que encontramos aqui é o poder da imaginação humana. Vance é extremamente imaginativo. Parte do que está diante seus olhos e com isso cria toda uma paisagem psicodélica;
10 - Enfim, Planeta Duplo é destas leituras que ativam nossa imaginação. Não só pelo fato de toda criatividade que possui, mas por algo ainda mais importante e talvez onde resida o principal benefício da leitura de FC: é o tipo de leitura que não nos deixa passivos, nosso cérebro passa a também querer viajar por outros mundo, começamos a especular, e se um planeta fosse assim... se fosse assado... o livro é um convite e uma afirmação que podemos e devemos olhar para onde não há nada, ao menos, aparentemente, e imaginar. Ler um livro desses nos convida a imaginar outros mundos, outros povos. E isso é sensacional.