O que queremos para o nosso país? Escolhas feitas em 2025 vão determinar o rumo da economia
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O ano de 2024 foi desafiador não apenas para a política fiscal, mas a dinâmica da política monetária também contou com muitos desafios. Os juros reais de 12 meses, calculados a partir da estrutura a termo da taxa de juros e das projeções de inflação da pesquisa Focus, estão em torno de 9,5%, com tendência de alta para alcançar 10%.
Nem mesmo durante a crise política e econômica de 2014 a 2016 os juros reais ultrapassaram esse patamar. Isso, na verdade, é simplesmente a consequência de políticas que sugerem que o país está caminhando para o desequilíbrio.
Ter juros reais em níveis tão elevados não é uma estratégia sustentável a longo prazo. O Brasil enfrenta dois possíveis caminhos: ou a política fiscal se ajusta, permitindo uma redução relevante nos juros, ou, caso contrário, a alta inflação acabará provavelmente forçando uma redução nas taxas reais.
O dilema é claro: sem uma melhoria fiscal consistente, o custo de financiar a dívida pública continuará a crescer, pressionando ainda mais a economia.
Os superávits primários são cruciais para estabilizar as despesas públicas. No entanto, a lenta resposta do governo em implementar ajustes fiscais tem aumentado a incerteza. Essa hesitação não apenas retarda o crescimento econômico, mas também agrava as expectativas inflacionárias, dificultando ainda mais a tarefa do Banco Central em controlar a inflação sem sacrificar a atividade econômica.
Mesmo com uma taxa de juros elevada, o mercado de crédito brasileiro continua mostrando resiliência. O crescimento do crédito, combinado com níveis controlados de inadimplência, aponta para uma demanda robusta por financiamento. As empresas e consumidores parecem estar navegando bem nesse ambiente restritivo, o que levanta questões sobre a eficácia dos juros altos em frear o crescimento econômico.
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O mercado de trabalho também se mantém forte, com níveis recordes de emprego e um saldo positivo de contratações formais. Além disso, a massa salarial continua a crescer, refletindo uma economia que, surpreendentemente, permanece vigorosa. Esses indicadores sugerem que, apesar do juro restritivo, a economia ainda encontra formas de se expandir.
No setor externo, a atratividade do Brasil para o capital estrangeiro tem se enfraquecido apesar dos juros tão altos. A saída de capital em dezembro foi recorde, o que tem pressionado muito a taxa de câmbio, levando o Banco Central a fazer intervenções também num nível recorde.
Uma das maiores questões é como a atividade econômica e a inflação de serviços se mantêm elevadas, mesmo sob um regime de juros tão altos e restritivo. Setores como turismo, serviços pessoais e comércio continuam a crescer, sugerindo uma demanda interna resiliente. Esse fenômeno pode ser explicado por uma combinação de fatores, como o impulso fiscal, principalmente, e a expansão de crédito pelos bancos públicos, que acabam gerando aumento da renda disponível e baixo desemprego, além de ampliar a confiança dos consumidores.
Entretanto, essa situação cria um paradoxo: a política monetária restritiva deveria desacelerar a atividade econômica e conter a inflação, mas os dados indicam uma economia que continua expandindo. Isso levanta preocupações sobre a eficácia das medidas de política monetária e a necessidade de políticas complementares para controlar a inflação sem prejudicar o crescimento.
Ao longo de 2024, as expectativas sobre o juro neutro — aquele que não estimula nem restringe a economia — mudaram significativamente. Inicialmente estimado em torno de 4,5%, o juro neutro agora é projetado para 5,5% ou até 6%. Essa revisão reflete uma realidade econômica mais complexa, onde os fatores estruturais, como a inflação persistente e a rigidez fiscal, desempenham papéis cruciais.
Essa nova estimativa do juro neutro implica desafios adicionais para a política monetária. Um juro neutro mais alto indica que a economia pode precisar de um período prolongado de juros elevados para conter a inflação. Isso, por sua vez, pode prolongar o período de desaceleração econômica futura, exigindo uma coordenação cuidadosa entre as políticas fiscal e monetária.
A trajetória dos juros reais no Brasil demonstra o quanto é importante a coordenação das políticas fiscal e monetária. Acelerar, a partir da política fiscal, e “brecar”, através da política monetária, está nos levando para essa situação de desequilíbrio crescente.
O governo precisa implementar ajustes fiscais significativos para estabilizar a dívida pública e restaurar a confiança dos agentes econômicos de que caminhamos para a sustentabilidade. Sem essas medidas, o Brasil corre o risco de entrar em um ciclo vicioso de juros elevados e inflação persistentemente alta, sem contar com a possibilidade de um desarranjo maior.
As escolhas feitas em 2025 serão cruciais para determinar o rumo da economia brasileira nos próximos anos. A responsabilidade fiscal e a coordenação eficaz entre as políticas monetária e fiscal são fundamentais para garantir uma trajetória de crescimento sustentável, juros mais razoáveis e evitar crises econômicas futuras. O tempo está se esgotando e o país precisa agir de forma decisiva para superar os desafios econômicos que se avizinham.
Luiz Fernando Figueiredo é presidente do Conselho de Administração da JiveMauá
Este artigo tem co-autoria de Italo Faviano e Mirella Hirakawa, economistas da Buysidebrasil
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