Computação quântica: o gato de Schrödinger digital

Esta tecnologia terá, num futuro próximo, um impacto ainda maior na forma como protegemos e utilizamos os nossos dados. Embora o seu potencial traga desafios, também oferece oportunidades únicas.

Fev 6, 2025 - 01:36
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Computação quântica: o gato de Schrödinger digital

Nos últimos anos, assistimos ao impacto transformador da inteligência artificial generativa, tanto na criação de soluções inovadoras como no aumento dos riscos de cibersegurança. Agora, uma nova revolução tecnológica está a caminho: a computação quântica. Esta tecnologia terá, num futuro próximo, um impacto ainda maior na forma como protegemos e utilizamos os nossos dados. Embora o seu potencial traga desafios, também oferece oportunidades únicas.

A computação quântica é uma inovação tecnológica ao nível dos componentes físicos de um computador, como o processador. Enquanto os computadores tradicionais processam informação com pequenos “interruptores” digitais que só podem estar ligados ou desligados (0 ou 1), estes pequenos “interruptores” nos computadores quânticos podem assumir múltiplos estados em simultâneo – uma espécie de gato de Schrödinger da computação. Esta capacidade permite-lhes resolver problemas complexos, como cálculos matemáticos, e processar elevadas quantidades de informação muito mais rápido que os atuais computadores.

Contudo, os riscos de cibersegurança são reais. Os alicerces da segurança da economia digital, assentam em cálculos matemáticos complexos que são utilizados para proteger informações, tornando-as ilegíveis para quem não possui a “chave” de acesso correta. Uma vez que os computadores atuais levariam, literalmente, milhões de anos para recriar essa “chave”, os mecanismos de autenticação, assinaturas eletrónicas, encriptação de informação, e outras operações utilizadas na proteção do mundo digital são consideradas seguras. No entanto, um computador quântico será capaz de realizar estes cálculos, replicando essa “chave”, em algumas horas ou até minutos, dependendo da sua capacidade de processamento.

Vamos a dois exemplos práticos, simplificados, que ajudam a compreender a importância e o impacto da computação quântica na segurança de informação e cibersegurança. Quando hoje eu me autentico numa aplicação, apresento uma chave digital. Como os computadores atuais não têm capacidade de replicar esta chave, essa autenticação é considerada segura. Num cenário com computação quântica, um atacante poderá em algumas horas replicar essa mesma chave, tornando o processo permeável a ciberataques.

Outro exemplo é uma técnica conhecida como “harvest now, decrypt later” (colher agora, decifrar depois), em que cibercriminosos recolhem hoje dados encriptados com o objetivo de os decifrar futuramente, quando existir uma democratização no acesso à computação quântica. Estes riscos sublinham a necessidade urgente de transição para algoritmos de criptografia pós-quântica, algoritmos que têm por base cálculos matemáticos mais complexos e por isso capazes de resistir à capacidade de processamento quântico.

Mas a computação quântica não é uma ameaça inevitável. A sua capacidade de processamento revolucionária é uma ferramenta poderosa que irá permitir avanços em diversas áreas.

Na saúde, será possível simular interações moleculares complexas, acelerando a descoberta de medicamentos e tratamentos personalizados. No setor energético e de transportes, otimizações baseadas em cálculos mais rápidos poderão reduzir desperdícios e melhorar a eficiência. A segurança digital será reforçada com novos sistemas de encriptação mais resistentes, protegendo melhor dados pessoais, financeiros e serviços críticos contra ciberataques. Estes avanços irão contribuir para uma sociedade mais segura, eficiente e inovadora.

O avanço da computação quântica está a acelerar, e a cibersegurança será um dos pilares mais afetados por esta transformação. Os países que investirem desde já em tecnologias de segurança quântica estarão a garantir a proteção das suas infraestruturas críticas, dos dados dos seus cidadãos e da confiança nas suas economias digitais. Uma questão se impõe: continuaremos a investir na proteção do nosso futuro digital ou a adiar decisões críticas, arriscando enfrentar consequências irreversíveis?