A verdade por trás do seu vestido de 10 euros: dentro das fábricas chinesas que alimentam o sucesso de Shein
As dúvidas em relação às condições de trabalho nas fábricas que abastecem o maior retalhista de fast fashion do mundo são muitas e não são novidade. A pensar nisso, a BBC decidiu iniciar uma investigação em Panyu.
Sabe aquele vestido que comprou na Shein por menos de 20 euros? Ou aquelas camisolas a preços bastante tentadores? O que escondem essas peças para que a marca as consiga vender a preços tão acessíveis?
As dúvidas em relação às condições de trabalho nas fábricas que abastecem o maior retalhista de fast fashion do mundo são muitas e não são novidade. A pensar nisso, a BBC decidiu iniciar uma investigação em Panyu, um distrito de Guangzhou conhecido como “Vila Shein”.
De acordo com a emissora britânica, as peças de roupa acessíveis da Shein escondem uma rotina de travalho intensa e muitas vezes exploratória das fábricas que abastecem a retalhistas. Essas fábricas produzem roupas que são exportadas para mais de 150 países, mas as condições de trabalho continuam a gerar crescentes dúvidas sobre a ética da empresa.
A investigação revela que os trabalhadores em Panyu enfrentam jornadas de cerca de 75 horas semanais, violando as leis trabalhistas chinesas que limitam a carga horária a 44 horas por semana, com pelo menos um dia de descanso obrigatório.
Segundo os relatos feitos à equipa da BBC, muitos funcionários têm apenas um dia de folga por mês, são pagos por peça, a um valor médio que varia entre um e dois yuans (menos de um dólar), podendo um trabalhador produzir cerca de uma dúzia por hora. Ainda que os salários possam atingir até 10 mil yuans mensais (aproximadamente 1.336,73 euros), isso é possível apenas com horas extras excessivas, já que o salário-base está abaixo do considerado suficiente para um padrão de vida digno.
Apesar das condições de trabalho, Panyu é essencial para o sucesso da Shein, que utiliza a cadeia de fornecimento integrada da China para produzir um grande volume de roupa num curto espaço de tempo e a baixo custo. A emissora dá ainda conta de que as fábricas recebem pedidos com base no desempenho de vendas online e, em caso de aumento da procura, contratam funcionários temporários para atender à produção.
Embora a Shein tenha sua sede oficial em Singapura, a maior parte de suas operações permanece na China, onde é possível obter materiais, como tecidos, fechos e botões, de forma local, reduzindo custos e acelerando a produção. Tudo isto dá à Shein uma vantagem competitiva em relação a rivais que dependem de importações.
Com planos de entrar na Bolsa de Valores de Londres, a Shein procura melhorar sua reputação, mas especialistas apontam que mudanças reais nas suas práticas de trabalho e maior transparência na cadeia de fornecimento são necessárias para conquistar a confiança dos investidores e consumidores.
A empresa não quis dar entrevista à BBC, mas informou, em comunicado, que “está comprometida em garantir o tratamento justo e digno de todos os trabalhadores”.