Tweets racistas de Karla Sofía Gascón enterram chances de “Emilia Pérez” no Oscar 2025

Postagens antigas da atriz com declarações islamofóbicas e racistas geram crise para o filme, que lidera a disputa com 13 indicações

Jan 31, 2025 - 16:12
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Tweets racistas de Karla Sofía Gascón enterram chances de “Emilia Pérez” no Oscar 2025

Redescoberta de postagens controversas

A campanha de “Emilia Pérez” ao Oscar 2025 foi fortemente impactada pela mais recente controvérsia envolvendo Karla Sofía Gascón. Postagens antigas da atriz, que ressurgiram nas redes sociais na última quinta-feira (30), chocaram o público – e os eleitores do Oscar – com declarações islamofóbicas e racistas. Entre os comentários atribuídos a Gascón, ela chama muçulmanos de “retardados” e o Islã de “profundamente repugnante”, se refere a George Floyd, cujo assassinato foi o estopim do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), como “um vigarista viciado em drogas” e ironiza a diversidade do Oscar, descrevendo-o como “um festival afro-coreano”.

Nesta semana, dois dias antes da canadense Sarah Hagi fazer a exposição dos tweets, Gascón já estava envolvida numa polêmica ao criticar profissionais ligados a Fernanda Torres por lançarem uma campanha contra ela nas redes sociais. A acusação grave e sem provas virou aperitivo perto da nova revelação, que coloca em risco não apenas a candidatura ao prêmio de Melhor Atriz, mas toda a campanha do longa-metragem.

Estratégia da Netflix e ascensão do filme

“Emilia Pérez” era visto como a maior aposta da Netflix para finalmente conquistar o Oscar de melhor filme. A plataforma adquiriu os direitos do longa em Cannes, onde Gascón e colegas do elenco compartilharam o prêmio de Melhor Atriz, e desde então concentrou a campanha na estrela espanhola. Para aumentar suas chances, a empresa até a inscreveu como protagonista e colocou Zoë Saldaña na categoria de Coadjuvante, apesar da narrativa ser centrada na personagem de Saldaña e seu tempo de tela ser maior.

A estratégia parecia bem-sucedida. No Globo de Ouro, Gascón aceitou o prêmio de Melhor Filme Musical ou Comédia em nome da produção e fez um discurso emocionado, declarando: “Você nunca poderá tirar nossa alma, nossa resistência, nossa identidade”. A frase foi amplamente interpretada como uma resposta à onda conservadora nos Estados Unidos, incluindo o movimento que levou à reeleição de Donald Trump.

Com o republicano no governo e já implementando medidas contra a população trans, como a proibição de presos trans em unidades correspondentes ao seu gênero e tentativas de barrar militares transgêneros, a Netflix apostava que o filme poderia ser impulsionado como um símbolo de resistência. No entanto, as declarações de Gascón desmontam esse discurso e expõem as contradições da campanha.

Repercussão e desculpas

O caso reacende debates sobre a falta de checagem prévia em campanhas publicitárias de grande porte e o impacto de fatores externos nas premiações.

A repercussão negativa já levanta dúvidas sobre o futuro da campanha. Restou à Netflix apenas correr para conter os danos. Na própria noite de quinta-feira, Karla Sofía Gascón divulgou um pedido de desculpas pelas mensagens altamente insensíveis e racistas feitas anos atrás.

“Quero reconhecer a discussão em torno das minhas postagens antigas nas redes sociais, que causaram sofrimento. Como alguém de uma comunidade marginalizada, conheço esse sofrimento muito bem e peço desculpas profundamente para aqueles a quem causei dor. Durante toda a minha vida, lutei por um mundo melhor. Acredito que a luz sempre triunfará sobre a escuridão”, ela disse na nota à imprensa.

Ainda não há posicionamento dos demais integrantes do elenco ou de Jacques Audiard, diretor do filme. Também permanece incerto se Gascón comparecerá à cerimônia do Oscar em março.

A eleição de Donald Trump e suas políticas contra a população trans poderiam ter fortalecido a narrativa de “Emilia Pérez” como um símbolo de resistência, mas as declarações de Gascón desmontam esse discurso. De forma irônica, a situação reflete justamente um dos temas centrais do próprio filme: o fato de que identidade não define caráter. Em “Emilia Pérez”, a protagonista muda de sexo, mas não deixa de ser um mau-caráter agindo de forma opressiva.