Estreias | “Covil dos Ladrõs 2” e mais três filmes do Oscar chegam aos cinemas
"A Verdadeira Dor", "Setembro 5" e "Trilha Sonora para um Golpe de Estado" são os títulos que disputam o prêmio da Academia
Novidades nas telas
Os destaques de cinema desta quinta são “Covil de Ladrões 2”, que chega em circuito amplo após surpreender em sua abertura nos EUA, e três filmes indicados ao Oscar 2025. “A Verdadeira Dor” e “Setembro 5” disputam a mesma categoria na premiação da Academia: Melhor Roteiro Original, com Kieran Culkin (“A Verdadeira Dor”) concorrendo ainda como Ator Coadjuvante. Já “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” compete como Melhor Documentário. A programação tem ainda um curioso “Magico de Oz” russo, o relançamento de “Seven” e nada menos que seis produções brasileiras de gêneros diversos, de comédia rasgada a documentário LGBTQIA+ premiado.
COVIL DE LADRÕES 2
A sequência do sucesso de ação de 2018 marca o reencontro de Gerard Butler e O’Shea Jackson Jr. (o filho de Ice Cube), que retornam aos seus papéis após os eventos do primeiro longa. Na nova trama, Big Nick (Gerard Butler) continua perseguindo Donnie (O’Shea Jackson Jr.), que se envolve com uma gangue de perigosos ladrões de diamantes na Europa. O grupo planeja um grande assalto ao maior mercado de diamantes do mundo. Desta vez, porém, Nick tem uma proposta inusitada para Donnie.
De forma surpreendente, o policial confronta o ladrão e propõe uma aliança, sugerindo que os dois se unam na execução do grande assalto. A parceria é levada adiante, mas resulta numa nova perseguição: os diamantes roubados são da máfia, que quer recuperar a fortuna. A continuação intensifica a ação com a parceria inesperada entre os personagens.
O cineasta Christian Gudegast volta a assinar o roteiro e a direção, que se provou um sucesso em seu lançamento nos Estados Unidos, onde abriu em 1º lugar nas bilheterias. A crítica americana também gostou mais da continuação que do filme inaugural, com 61% de aprovação no Rotten Tomatoes contra 41% do primeiro longa.
A VERDADEIRA DOR
A comédia dramática é o segundo filme escrito e dirigido pelo ator Jesse Eisenberg (“A Rede Social”), que também é um dos protagonistas. A trama gira em torno de dois primos, David (interpretado por Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin, de “Succession”), durante uma viagem à Polônia em homenagem à avó falecida. Em meio ao passeio, antigas tensões ressurgem entre os parentes, que se amam e se odeiam, criando um pano de fundo emocionalmente complexo e carregado de história familiar, compartilhado em meio a desconhecidos numa excursão aos marcos do Holocausto.
O filme também conta com Jennifer Grey (“Dirty Dancing”), Will Sharpe (“The White Lotus”), Kurt Egyiawan (“Beasts of No Nation”), Liza Sadovy (“A Small Light”) e Daniel Oreskes (“Only Murders in the Building”). Além disso, ainda lista a atriz Emma Stone (“Pobres Criaturas”) como uma das produtoras.
Elogiado durante sua première no Festival de Sundance, “A Verdadeira Dor” atingiu 96% de aprovação da crítica americana, na medição do Rotten Tomatoes, e concorre a dois Oscars: Melhor Roteiro Original (Eisenberg) e Melhor Ator Coadjuvante (Culkin).
SETEMBRO 5
O filme recria um dos eventos mais chocantes e trágicos da história olímpica: a crise dos reféns nas Olimpíadas de Munique de 1972. Embora a história do ataque à delegação olímpica de Israel por terroristas pró-Palestina tenha sido retratada em vários documentários e filmes, este novo docudrama é o primeiro a apresentar o massacre de Munique por uma perspectiva jornalística, acompanhando a ação sob o ponto de vista da equipe de TV da ABC Sports, que cobria os jogos durante o ataque. A trama examina as implicações éticas e morais de transmitir terroristas com reféns ao vivo, explorando o delicado equilíbrio entre relatar as notícias e se tornar parte delas. A história impactante concorre ao Oscar de Melhor Roteiro Original.
O elenco destaca Peter Sarsgaard (“Acima de Qualquer Suspeita”), John Magaro (“Os Muitos Santos de Newark”) e Ben Chaplin (“The Nevers”) como três produtores de notícias da ABC Sports, que trabalharam nos bastidores da cobertura. Enquanto a rede ABC preferia que o departamento de notícias lidasse com as reportagens, o trio lutou para continuar com sua cobertura enquanto a crise se desenrolava em tempo real, a apenas um prédio de distância de sua localização. Mal sabiam eles que o mundo inteiro estaria assistindo, incluindo os terroristas.
Dirigido e coescrito pelo cineasta suíço Tim Fehlbaum, conhecido pelas sci-fis pós-apocalípicas “Um Inferno” (2011) e “O Refúgio” (2021), “5 de Setembro” também apresenta imagens de arquivo da transmissão real da ABC, incluindo cenas com o âncora Jim McKay.
TRILHA SONORA PARA UM GOLPE DE ESTADO
O documentário de Johan Grimonprez explora a interseção entre jazz, descolonização e intrigas políticas durante a Guerra Fria. Com uma análise profunda das complexas relações entre música, política e colonialismo, sua narrativa tem como ponto central o episódio em que os músicos americanos Abbey Lincoln e Max Roach invadiram uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para protestar contra o assassinato do líder congolês Patrice Lumumba.
Utilizando uma montagem dinâmica de imagens de arquivo, o filme destaca como o jazz foi empregado como uma forma de “soft power” pelos Estados Unidos, enquanto músicos como Louis Armstrong, Dizzy Gillespie e Nina Simone atuavam como “embaixadores culturais” na África.
A consagração começou em sua première mundial no Festival de Sundance de 2024, onde venceu o Prêmio Especial do Júri por Inovação Cinematográfica. Indicado ao Oscar de Melhor Documentário, venceu diversos outros prêmios e é aclamado pela crítica, com 96% de aprovação no Rotten Tomatoes, por sua abordagem inovadora e narrativa envolvente.
O HOMEM DO SACO
O terror se baseia na lenda urbana do Homem do Saco, figura do folclore global conhecida por raptar crianças desobedientes. A lenda, muitas vezes usada como alerta moral para crianças, é reimaginada como uma força real e ameaçadora. O “Homem do Saco” no filme não é apenas um ser mitológico, mas uma presença concreta que desafia os personagens a confrontar seus medos e segredos sombrios.
Na trama, Patrick McKee (Sam Claflin, de “Daisy Jones & The Six”) retorna à sua antiga casa de infância com sua nova família, onde revive traumas ligados a um encontro com a entidade sobrenatural que aterroriza a comunidade local. Conforme os eventos se desenrolam, ele é forçado a revisitar seu passado e enfrentar o monstro que assombra sua vida. O diretor Colm McCarthy se esforça em misturar elementos de horror psicológico com uma atmosfera sobrenatural, explorando culpa e trauma familiar, mas os clichês reduzem o enredo a uma versão genérica de “It – A Coisa”. Além disso, os ataques do monstro deveriam mudar o título do filme para “O Homem da Tesoura”.
O MARAVILHOSO MÁGICO DE OZ
A curiosa versão russa de “O Mágico de Oz” é uma adaptação do romance de 1939 do soviético Alexander Volkov, que refez a obra de L. Frank Baum com mudanças significativas, incluindo novos nomes de personagens e elementos alinhados aos valores promovidos pelo regime comunista. As diferenças se mostram na ênfase na coletividade e trabalho em equipe contra o aproveitador individualista e charlatão.
A história acompanha Elli, uma jovem que, após um furacão conjurado pela bruxa má Gingema, é transportada junto com seu cachorro Totoshka para a terra dos Munchkins. Sua casa cai em cima de Gingema, fazendo com que outra bruxa má, Bastinda, queira vingança. Assim como Dorothy, Elli também conhece o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde (criado por computação gráfica), com quem se une para seguir pela estrada de tijolos amarelos em direção à Cidade Esmeralda, em busca do Mágico que pode realizar seus desejos. Entretanto, ela não é a heroína clara da história, que, ao melhor estilo comunista, compartilha o protagonismo entre o grupo de personagens bonzinhos para demonstrar o perigo de se confiar num pseudo-salvador individualista.
Por coincidência, o filme foi concebido em duas partes como o americano “Wicked”, mas sua sequência só vai chegar aos cinemas em 2027. A direção é de Igor Voloshin (“Atraídos pelo Desejo”) e o elenco destaca a jovem estreante Ekaterina Chervova como Elli, Yuri Kolokolnikov (“Tenet”) como o Homem de Lata, Yevgeny Chumak (“A Russian Youth”) como o Espantalho e Svetlana Khodchenkova (“O Espião que Sabia Demais”) no papel da bruxa má Bastinda.
VIVA A VIDA
A nova comédia de Cris D’Amato (“S.O.S. Mulheres ao Mar”) acompanha a história de Jessica, interpretada por Thati Lopes (“Porta dos Fundos”), uma jovem que trabalha em uma loja de antiguidades no Rio de Janeiro. Sua rotina é dedicada ao trabalho e às contas a pagar, até que um dia ela encontra um medalhão idêntico ao que sua falecida mãe lhe deixou. Intrigada, Jessica se une a Gabriel (Rodrigo Simas, de “Além da Ilusão”), que pode ser seu primo, e juntos viajam para Israel em busca de respostas sobre a origem do medalhão. Durante essa jornada, Jessica descobre parentes perdidos, um novo amor e um sentido renovado para sua vida.
A produção marca um reencontro entre a diretora e Thati Lopes, após a parceria bem sucedida em “Esposa de Aluguel” (2022), que virou um sucesso internacional na Netflix. O elenco também conta com Jonas Bloch (“Desalma”) e Regina Braga (“Irmã Dulce”). O roteiro é assinado pela atriz Natália Klein (“Maldivas”).
TODO MUNDO AINDA TEM PROBLEMAS SEXUAIS
A continuação do filme “Todo Mundo Tem Problemas Sexuais” (2008), de Domingos Oliveira, segue o padrão do original, com quatro histórias independentes que exploram as delícias e dificuldades dos relacionamentos amorosos. Ambas as produções se inspiram na peça escrita por Domingos Oliveira em parceria com sua esposa, a atriz e escritora Priscilla Rozenbaum, que foi um grande sucesso dos anos 2000.
Os episódios abordam curiosidades, inseguranças e desejos sexuais, acrescentando elementos como infidelidade e ciúmes, que rendem tanto drama quanto humor. Mas nada é muito picante. A classificação etária é de 14 anos.
Primeiro longa de ficção de Renata Paschoal, o filme conta com Dudu Azevedo (“Qualquer Gato Vira-Lata”), Letícia Lima (“Nas Ondas da Fé”), Sophia Abrahão (“Amor da Minha Vida”), Claudia Mauro (“De Pernas pro Ar 3”), Sandra Pêra (“A Novela das 8”), Beatriz Linhales (“Pedaço de Mim”), Cauê Campos (“Pantanal”) e Hélio de la Peña (“Casseta & Planeta Urgente”).
KASA BRANCA
O drama premiado companha Dé, um adolescente negro da periferia de Chatuba, no Rio de Janeiro, que decide aproveitar os últimos dias de vida de sua avó, Almerinda, diagnosticada com Alzheimer em estágio terminal. Ele conta com a ajuda de seus dois melhores amigos, Adrianin e Martins, para realizar esse plano.
A produção se destaca por oferecer uma perspectiva diferenciada das favelas cariocas, enfatizando a solidariedade e os laços comunitários, em vez da criminalidade tão explorada no cinema. A direção é de Luciano Vidigal, nascido na favela do Vidigal e revelado na antologia “5X Favela – Agora por Nós Mesmos” (2010).
O filme estreou no Festival do Rio de 2024, onde foi reconhecido com quatro prêmios, incluindo Melhor Direção. O elenco traz Big Jaum (“União Instável”) como Dé e Teca Pereira (“Marighella”) no papel de Almerinda. Também participam Diego Francisco (“Macabro”), Ramon Francisco (“Cidade de Deus”), Gi Fernandes (“Os Outros”), Roberta Rodrigues (“Cidade de Deus”), Babu Santana (“Tim Maia”) e o rapper L7nnon.
IVAN
Longa de estreia de Dani Manzini, o drama se passa em 1976 e segue Armando, um imigrante latino-americano, e sua esposa Sonja, que enfrentam uma relação à beira do caos. Sonja mergulha em uma espiral de insanidade ao tentar compreender os processos da gestação de seu filho, Ivan. Enquanto isso, Armando busca sobreviver às disfunções familiares que o cercam, levando-o a ressignificar o conceito de “loucura”.
O elenco conta com Gilda Nomacce (“Enterre Seus Mortos”) no papel de Sonja, o estreante Carlos Ramírez como Armando e Giovanni de Lorenzi (“Poliana Moça”) interpretando Ivan. O filme é uma co-produção entre Brasil e Colômbia, e foi reconhecido no 44º Festival Guarnicê de Cinema com seis prêmios, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante.
PARQUE DE DIVERSÕES
O filme LGBTQIA+ experimental de Ricardo Alves Jr. (“Elon Não Acredita na Morte”) acompanha figuras anônimas que percorrem as ruas de Belo Horizonte em busca de encontros. O filme aborda a experiência do “cruising”, termo que descreve encontros sexuais anônimos e consensuais em locais públicos. A obra explora esse universo como um território de excitação, segredo e alteridade, reunindo performances que abordam o corpo, sexualidades, voyeurismo, exibicionismo e fetiches, desafiando conceitos de identidade e gênero.
O elenco é composto, em sua maioria, por nomes pouco conhecidos ou artistas ligados a produções alternativas e performances experimentais.
ALMA DO DESERTO
A coprodução entre estúdios da Colômbia e Brasil acompanha a jornada de Georgina Epiayu, uma mulher transgênero da comunidade indígena Wayúu, que enfrenta desafios para obter um documento de identidade que reflita seu gênero. A narrativa documental destaca a resiliência de Georgina ao navegar pela burocracia colombiana, buscando afirmar sua identidade em uma sociedade que frequentemente marginaliza indivíduos trans e comunidades indígenas. O primeiro longa de Mónica Taboada Tapia também explora as paisagens áridas de La Guajira, região no norte da Colômbia, enfatizando a conexão entre a protagonista e seu território ancestral.
“Alma do Deserto” é uma expansão do curta-metragem anterior de Taboada Tapia, “Two-Spirit”, que também focava na vida de Georgina. O filme estreou mundialmente no Festival de Veneza do ano passado, onde venceu o Leão Queer, prêmio dedicado ao melhor filme com temática LGBTQIA+.
SEVEN – OS SETE CRIMES CAPITAIS
Relançamento comemorativo de 30 anos do filme que colocou o diretor David Fincher no mapa e que se tornou um dos melhores suspenses de sua época. Kevin Spacey vive um serial killer que chama atenção do FBI com “instalações artísticas” de vítimas para ilustrar os sete pecados capitais. Ele é perseguido pelos policiais vividos por Brad Pitt e Morgan Freeman. Gweneth Paltrow, que no período tinha um relacionamento real com Pitt, vive sua esposa na trama, numa participação pequena, mas de perder a cabeça. O final da caixa misteriosa rende discussões até hoje.