DECO PROteste: Por um consumo consciente
A DECO PROteste assume o seu papel também na sustentabilidade, tornando-a numa das prioridades da sua missão em defesa dos consumidores, um caminho feito de desafios e conquistas, em que o saber é poder.
A sustentabilidade está no centro das preocupações da DECO PROteste, reflectindo-se na informação que disponibiliza, nos selos atribuídos aos produtos e na sensibilização para práticas mais amigas do ambiente. Em 2024, a organização promoveu iniciativas e eventos de debate sobre os desafios da sustentabilidade nas suas diversas vertentes, integra projectos europeus relacionados com a área, entre outros exemplos. Para Mariana Ludovino, porta-voz da DECO PROteste, e Elsa Agante, responsável pela área de sustentabilidade, o objectivo vai além de informar, mobilizar consumidores e empresas rumo a uma economia circular, onde escolhas sustentáveis sejam acessíveis e reais. Sempre em mente está a transformação de desafios em oportunidades para impulsionar a mudança.
Qual é o vosso posicionamento sobre sustentabilidade?
Elsa Agante (EA): A nossa missão é informar, defender e representar os consumidores e os seus interesses em todas as esferas de actuação e isso inclui a sustentabilidade. Para a DECO PROteste, engloba preocupações sociais, ambientais e económicas ao longo de toda a cadeia de valor. Assim, a nossa estratégia tem como objectivo contribuir para atingir uma sociedade mais sustentável, garantindo que os consumidores têm o máximo de informação para seleccionar os produtos e serviços mais sustentáveis, promovendo as melhores práticas ao nível do consumo sustentável e apostando nomeadamente no modelo económico de economia circular. Ser uma força motriz para as marcas, empresas e produtores melhorarem os seus produtos e serviços, tornando-os mais sustentáveis e contribuir para uma sociedade mais inclusiva, onde os produtos e serviços mais sustentáveis são acessíveis aos consumidores.
O nosso trabalho prende-se com a disponibilização de informação com base em testes e estudos, mas também na actuação em vertentes de políticas e reivindicações, acompanhando e propondo iniciativas legislativas e denunciando situações de práticas desleais ou de alegações de sustentabilidade que não passam de estratégias de marketing, como é o caso das situações de greenwashing.
Ainda ao nível das empresas, para que tenham a possibilidade de melhorar, cooperamos com várias entidades de forma a promover e potenciar produtos e serviços mais sustentáveis.
Por fim, trabalhamos a área da sustentabilidade interna, ao nível da própria empresa e colaboradores, de modo a tornar a DECO PROteste um exemplo de uma empresa mais sustentável.
Quais foram as principais iniciativas de sustentabilidade que a DECO PROteste implementou em 2024?
Mariana Ludovino (ML): Um dos exemplos onde incorporamos a sustentabilidade no dia-a-dia é nos nossos testes a diversos produtos. Entre estes destacamos os estudos de análise de ciclo de vida que promovemos por cada tipologia de equipamentos, no sentido de perceber em que fase da vida dos produtos os impactos ambientais são mais elevados. Deste modo conseguimos identificar produtos de qualidade ao nível de desempenho e com menor impacto ambiental, através da atribuição do nosso selo Escolha Verde. Em 2024 foi atribuído a frigoríficos, máquinas de lavar loiça, bombas de calor para aquecimento de água, equipamentos de ar condicionado, entre outros.
Também acompanhamos diariamente desenvolvimentos de temas com impacto na vida dos consumidores: aumento da eficiência energética das habitações, perdas de água, comportamentos que levam a desperdício, excesso de embalagem, greenwashing, ou comportamentos insustentáveis ao nível do consumo excessivo.
Destacamos ainda a grande aposta no nosso Portal da Sustentabilidade (https://www.deco.proteste.pt/sustentabilidade), onde temos vindo a desenvolver ferramentas indispensáveis e gratuitas, como no caso dos painéis fotovoltaicos, a plataforma de Biorresíduos/PAYT, e ainda as tarifas de água.
A DECO PROteste tem promovido campanhas de sensibilização sobre consumo sustentável. Pode destacar algumas das mais relevantes realizadas este ano?
EA: A título de exemplo, destacamos um estudo recente que fizemos sobre a sustentabilidade dos copos de plástico reutilizáveis utilizados em eventos, festivais ou até em locais de diversão nocturna. Para compreender o verdadeiro impacto, a DECO PROteste efectuou um estudo para comparar os impactos ambientais entre os copos de polipropileno (PP) e politereftalato de etileno (PET) reutilizáveis de 0,33 litros e os copos de uso único com os mesmos materiais. Para esta avaliação considerou-se o impacto ambiental ao longo de todo o ciclo de vida, desde a produção dos copos e matérias-primas utilizadas, transporte, utilização (lavagem no caso dos copos reutilizáveis) e o final do ciclo de vida (reciclagem, valorização e aterro). Com isto, verificámos que um copo fabricado para ser reutilizado, caso seja usado uma única vez, tem um impacto ambiental sete a nove vezes superior que um copo fabricado originalmente para ser usado uma única vez. Estes dados permitem- nos sensibilizar para a alteração do modo de funcionamento das empresas sobre este tema que, tal como outros, continua a ser acompanhado de perto pela DECO PROteste.
Em 2024, Portugal celebrou o segundo Dia Nacional da Sustentabilidade. Qual foi o papel da DECO PROteste nesta celebração e que actividades foram desenvolvidas?
ML: Através de uma proposta da DECO PROteste, aprovada pelo Governo e em Conselho de Ministros, e publicada em Diário da República em 2023, Portugal tornou-se o primeiro país a celebrar anualmente o Dia Nacional da Sustentabilidade, a 25 de Setembro. Quisemos contribuir para uma maior consciencialização e discussão de todos os players da sociedade à volta de tudo aquilo que a palavra “sustentabilidade” abarca, imprescindível para as gerações futuras.
O nosso evento Visões do Futuro 2024, que seguiu o formato do ano passado, quando se oficializou a data, destacou-se por debates enriquecedores entre especialistas e representantes sectoriais, sob a parceria do Grupo Impresa. Entre os temas abordados, destacou-se a sustentabilidade dos diferentes materiais de embalagem, a promoção de soluções sustentáveis nas habitações, os desafios e oportunidades para o futuro do sector da água, a transição energética com foco na substituição de fontes de energia poluentes por alternativas mais sustentáveis, bem como o estado actual da reciclagem e a urgente problemática do desperdício alimentar. Com entrada livre, ofereceu ainda várias actividades, painéis e workshops destinados ao público em geral e para todas as idades.
Quais os principais desafios que enfrentaram na promoção da sustentabilidade em 2024 e como foram superados?
EA: Podemos destacar alguns pontos transversais, entre eles o compromisso dos consumidores em tempos de incerteza económica, em que o aumento do custo de vida pode influenciar a adesão a práticas mais sustentáveis. Trabalhamos diariamente em comunicações e campanhas que demonstram como a sustentabilidade tem também um factor económico (redução do desperdício alimentar, o uso eficiente de energia ou a reutilização de recursos).
A questão do combate à desinformação também é algo que temos vindo a desmistificar, especialmente em contexto de sustentabilidade com a questão do greenwashing e que pode gerar cepticismo entre os consumidores. Para tal, focamos as nossas comunicações de forma clara e objectiva, fornecendo informação independente sobre produtos e serviços, aos quais disponibilizamos o nosso selo Escolha Verde.
Por fim, a instabilidade política dos últimos meses tem vindo a dificultar, por vezes, um maior alinhamento nas políticas públicas. A transição para uma economia sustentável exige um quadro legislativo consistente, pelo que trabalhamos activamente para influenciar a formulação de políticas públicas, participando em consultas, promovendo estudos e expertise, de forma a garantir um impacto positivo na implementação de práticas sustentáveis na sociedade.
Que medidas estão a ser planeadas para aumentar a sensibilização sobre a importância da reciclagem e redução de resíduos entre os consumidores?
ML: O Parlamento Europeu aprovou regras mais rigorosas em matéria de embalagens e resíduos de embalagens. A DECO PROteste tem defendido os interesses dos consumidores junto das instituições europeias e em conjunto com as suas congéneres, sabendo que, independentemente da legislação adoptada, esta só funcionará se os consumidores forem equipados com as ferramentas e a motivação para serem parte integrante da aplicação das mesmas.
Outro exemplo é o pagamento de contribuição pelos sacos de plástico e embalagens de utilização única, que a DECO PROteste considera que deve ir mais longe. Esta taxa deve ser aplicada a todas as embalagens de uso único, independentemente do seu material, uma vez que o objectivo é a redução de resíduos e não a substituição por embalagens de outros materiais, mas também de uso único.
Quais são as vossas expectativas e objectivos para 2025 no âmbito da sustentabilidade e responsabilidade social?
EA: Muitas são as pessoas que defendem comportamentos mais sustentáveis, mas ainda são poucas aquelas que os praticam. É prioritário implementar novos comportamentos, que promovam um desenvolvimento económico, social e ambiental mais sustentável, e incentivar práticas sustentáveis em áreas como consumo, economia e meio ambiente, tendo em vista um futuro mais responsável e equilibrado.
Por isso mesmo, a DECO PROteste irá continuar o seu trabalho de informar sobre os produtos e serviços mais sustentáveis, de modo a ajudar os consumidores nas suas escolhas. Pretendemos também levar a força dos consumidores aos vários sectores empresariais, para garantir a disponibilidade de produtos e serviços deste género, e acessíveis a todos.
Estão previstas novas parcerias ou colaborações com outras entidades para promover práticas sustentáveis ao longo do próximo ano?
ML: Fazemos parte de iniciativas com a Comissão Europeia e outros organismos públicos e privados e desenvolvemos projectos para promover a inovação e o comportamento virtuoso. Contribuímos também para o “Green Deal”, ou Acordo Verde, o plano de acção para a economia circular e a implementação da agenda do consumidor.
Neste âmbito, salientamos três projectos europeus actualmente a decorrer e de que a DECO PROteste faz parte dos consócios internacionais: o projecto CLEAR-HP, que tem o objectivo de ajudar os consumidores a poupar energia e dinheiro, melhorando o conforto da sua casa e contribuindo na transição para a energia limpa; o projecto HORIS, que prevê a criação de uma ferramenta online com toda a informação sobre eficiência energética, soluções técnicas existentes, obrigações legais e soluções, contando com uma selecção de profissionais de renovação eficiente; e o projecto REP.per, que pretende alertar consumidores e decisores políticos para a necessidade de reparação de electrodomésticos e equipamentos, em vez da sua substituição por produtos novos, promovendo escolhas mais sustentáveis e uma economia circular.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e responsabilidade social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 341) da Marketeer.