Crítica | Inexplicável (2024): emoção e superação com doses de fé

Longa aposta na empatia para emocionar o público ao narrar uma história real de superação. O post Crítica | Inexplicável (2024): emoção e superação com doses de fé apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.

Jan 14, 2025 - 13:58
Crítica | Inexplicável (2024): emoção e superação com doses de fé

O cinema tem o hábito de explorar narrativas que dialogam diretamente com as emoções do público. Destas, certamente as histórias que combinam fé e superação são exemplos das mais simples e eficientes de se trabalhar. Inexplicável” parte desse pressuposto para trazer uma comovente história real para as telonas nos moldes de filmes religiosos hollywoodianos. Porém, o diretor Fabrício Bittar consegue se diferenciar ao equilibrar o peso da carga espiritual no drama e se apoiar na força do seu elenco estrelado.

No longa, baseado no livro O Menino que Queria Jogar Futebol, do paraibano Phelipe Caldas, somos apresentados à vida de Gabriel Montenegro, um garoto que, aos 8 anos, enfrentou a maior batalha de sua vida. Jogador de futsal e admirado por seu talento, Gabriel passou mal durante uma partida, sendo diagnosticado com uma grave condição de saúde, enfrentando uma cirurgia de emergência que o deixou à beira da morte. Contra todas as expectativas, ele e sua família, cada um à sua maneira, lutam pela sobrevivência do jovem em um desfecho que desafiou explicações médicas.

Letícia Spiller e Eriberto Leão dão vida a Yanna e Marcus, pais de Gabriel, e personagens que oscilam entre o desespero e a esperança em meio a uma jornada de provações. Suas atuações intensas conferem autenticidade a uma narrativa que, embora centrada em Gabriel, explora principalmente o impacto da crise sobre os pais e os demais ao seu redor. A mãe, grávida e com outro filho mais novo, se mostra o centro da esperança que abraça a própria fé. Já o pai demonstra ser fechado para a religião, mostrando um combinado de indiferença e incompreensão.

O restante do elenco principal também tem seu destaque, mostrando que o diretor soube extrair o melhor de cada um, especialmente do jovem protagonista, Miguel Venerabili. Por mais que Gabriel passe várias sequências desacordado, o ator entrega os sentimentos necessários quando exigido, sobretudo nas cenas nas quais sua recuperação está começando. André Ramiro e Adriana Lessa dão vida a dois médicos que ajudam a manter o equilíbrio entre crença e ceticismo, mesmo que, como o título sugere, os acontecimentos não sejam explicáveis pela ciência. O longa ainda conta com coadjuvantes de muita qualidade para compor o elenco de apoio, como Moacyr Franco, Suely Franco, Walter Breda e Victor Lamoglia.

Bittar aposta em uma estética que acentua o turbilhão de sentimentos da situação: planos fechados capturam a dor e a vulnerabilidade, enquanto a iluminação propositalmente fria contribui para a construção de um clima introspectivo. Os sons de aparelhos hospitalares também são constantes e opressores, sobretudo para quem já precisou passar por períodos angustiantes nesse tipo de ambiente. São escolhas pensadas em amplificar o impacto dramático desse mergulho na relação entre a fragilidade da vida e a força espiritual, mas que também podem soar excessivamente melodramáticas em certos momentos.

Não é segredo que o objetivo de “Inexplicável” é passar uma mensagem de resiliência e esperança. A história convida o espectador a refletir sobre prioridades, fé e a força que emerge nas situações mais difíceis. No entanto, há um contraponto que acaba englobando praticamente todos os exemplares desse “subgênero”: enquanto alguns encontram inspiração nessa abordagem religiosa, outros podem considerar a narrativa proselitista. O arco de Marcus exemplifica bem essa dicotomia. Eriberto Leão protagoniza uma cena de muita sensibilidade ao pesquisar como fazer uma oração. Porém, em outros momentos, a transformação do personagem pode soar reducionista e até previsível para o tipo de filme.

A obra também pode provocar questionamentos sobre o uso de crianças gravemente doentes como motor emocional. Enredos desse tipo exploram a vulnerabilidade do público ao enfatizar o sofrimento infantil seguido de um desfecho redentor. Essa estratégia é eficaz em tocar corações, mas pode ser vista como um recurso dramático clichê.

No fim, “Inexplicável” não reinventa a roda, mas funciona plenamente para os que comprarem sua ideia desde o início — os que valorizam histórias centradas em fé e superação e buscam uma experiência comovente e transformadora. Para alguns, pode soar como um apelo emocional excessivo, mas é uma missão difícil não ter empatia com essa família e manter os olhos secos ao fim da exibição.

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