As obviedades escondem riscos e afugentam as oportunidades de ganhar dinheiro: uma conversa franca sobre seus investimentos

Caros(as) leitores(as),

Eu confesso abertamente que nunca vivi um momento tão delicado do mercado financeiro brasileiro. Não que eu tenha um punhado de décadas de experiência, mas com o bom tempo que tenho, já tive a oportunidade de ver e viver muitas experiências, cenários.

A “Crise da Covid”, em 2020, deveria ser a mais dura do passado recente. Porém, a recuperação em “V” foi tão rápida que ela não foi uma boa professora.

Agora, nós assistimos uma deterioração continua, que ensina, mas também gera muita insegurança e medo. Estou aqui hoje para ajudar a separar o joio do trigo.

O óbvio

A renda fixa fica mais atrativa com juros mais altos. O Banco Central segue no processo de alta de juros, a próxima reunião inclusive já contrata mais 1 ponto percentual na taxa Selic.

O patamar de expectativa futura de juros, seja de nominais ou reais, é muito elevado e isso reflete nas taxas dos títulos. Nada a acrescentar, é muito claro e você deveria sim desfrutar de tudo isso com parcela do seu patrimônio.

O menos óbvio

Tanta atratividade dessa classe, ofusca as demais. Outros bolsos, como o de renda variável, ficam mais “largados”.

Hoje a M4, uma métrica de poupança local, está em algo como R$ 17 trilhões. Imagine apenas os juros mensais com o patamar da taxa Selic atual – um único mês entrando como comprador na bolsa, faria o Ibovespa subir no mínimo 20/30% – isso sem falar numa migração mais considerável em ambiente de juros menores.

Sim, é fato: existem muitas oportunidades na bolsa brasileira, não diria ela como um todo, mas claramente temos. No entanto, para desfrutar desses descontos, você vai precisar de paciência até o mercado ganhar folego novamente.

O zero óbvio

Essa demanda maluca por ativos de renda fixa fez com que muitos ativos ficassem caros. Especialmente nos segmentos mais líquidos e conservadores.

As recuperações judiciais devem aumentar com o custo de capital mais caro, já que temos juros tão altos (e que devem subir mais). Muito do patrimônio alocado aqui está em estratégias de liquidez, com resgates em um ou dois dias, isso pode gerar um movimento “manada” que causa destruição de capital.

O maior medo de ter investimento em bolsa costuma ser a volatilidade, o que não faz sentido, pois é ela quem gera oportunidades, o que significa que além de aprender a conviver com ela, deveríamos a usar ao nosso favor. Junto a ele, temos o receio do cenário piorar, como perdemos o controle da inflação, por exemplo.

No entanto, as oligopolistas da bolsa são, na realidade, a melhor proteção para esse cenário. Não é novidade, basta observar o S&P Merval na Argentina no período de deterioração econômica.

Conclusão

O mercado se agarra na boia das eleições em 2026 – a esperança de melhora está na mudança de ciclo político. A diversificação, com ênfase em geografias inclusive, será sempre o melhor caminho para atenuar adversidades e capturar em certa medida as oportunidades.

As obviedades sempre parecem a melhor decisão, como um viés de confirmação: investir em renda fixa enquanto todos fazem o mesmo, é muito confortável. Sentar-se numa mesa de bar e falar em voz alta que você está comprando ações de empresas na bolsa vai te fazer parecer uma pessoa desiquilibrada e sem juízo.

Mas lembre-se: se todos entendem exatamente o que você está fazendo, provavelmente você está atrasado.

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