Funcionários de hospital dizem que furadeiras domésticas usadas em cirurgias foram escondidas em fiscalização da Vigilância Sanitária
Vídeos mostram as furadeiras usadas pelos médicos do Hospital do Pari, Centro de SP, durante cirurgias. A Vigilância Sanitária disse que esteve no local e não encontrou irregularidade; Anvisa proíbe uso do equipamento em procedimentos desde 2008. Funcionários relatam que receberam ordem para esconder furadeiras domésticas usadas em cirurgias durante fiscalização Reprodução/TV Globo Funcionários do Hospital Nossa Senhora do Pari, que fica no Centro de São Paulo e foi denunciado por fornecer furadeiras domésticas para cirurgias ortopédicas, afirmam que receberam ordem para esconder todos os equipamentos irregulares durante fiscalização da Vigilância Sanitária do estado realizada nesta quinta-feira (6). O uso de furadeiras domésticas em cirurgias é proibido pela Anvisa desde 2008. A nota técnica, emitida pelo órgão, afirma que o uso representa um grave risco para a saúde e constitui infração sanitária por se tratar de produto sem registro na Anvisa. Em nota, a Vigilância Sanitária disse que esteve no local depois da reportagem da TV Globo – que mostrou o uso das furadeiras domésticas – e não encontrou nenhuma irregularidade. Por telefone, um funcionário, que prefere não se identificar, contou como foi a ordem de esconder os equipamentos para não serem flagrados na fiscalização. "A gerente de enfermagem, junto com a diretoria, pediu pra esconder tudo de irregular por causa da Vigilância Sanitária, tipo furadeira, material reutilizado que foi tirado de um paciente para por em outro, e estão mandando esconder". Outra funcionária, que também pediu para não se identificar, também percebeu que os equipamentos foram escondidos. Em uma troca e mensagens, ela diz "Cremesp veio aqui de manhã, esconderam as blacks". Outra pessoa responde: "black furadeiras". E ela diz "sim". Uma mulher que trabalhou no hospital por 4 anos procurou a reportagem da TV Globo para relatar que pediu demissão quando descobriu as péssimas condições sanitárias do hospital "A gente se via numa situação onde tinha tudo para dar certo, tinha recursos, não é uma instituição que não tinha recursos. Era uma instituição que recebia um repasse grande do SUS". Médicos do Hospital Pari, Centro de SP, usam furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas TV Globo Os detalhes do convênio firmado entre a Prefeitura de São Paulo e o hospital Nossa Senhora do Pari são públicos e estão disponíveis no site da própria prefeitura. No documento, fica claro que o hospital é contratado para prestação de assistência à saúde e integrara o Sistema Único de Saúde. E que o valor do repasse anual destinado ao hospital é de pouco mais de R$ 33 milhões. Ou seja, em média, R$ 2, 8 milhões por mês. A direção do Hospital do Pari afirmou que cerca de 550 cirurgias por mês, e que tem o compromisso de atender a população com o mais elevado padrão de qualidade hospitalar. Denúncia Médicos do Hospital Pari, Centro de SP, usam furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas Imagens gravadas no dia 24 de janeiro de 2025 mostram a precariedade na estrutura do hospital com goteiras no corredor. Médicos foram filmados usando furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas. Nas imagens, é possível ver as furadeiras, que são proibidas pela Anvisa desde 2008, usadas pelos médicos com marcas de sangue e até com fios desencapados (veja acima). "São de cinco a nove furadeiras que têm na casa, são as comuns que você compra para perfurar a parede. Algumas têm até raspada a marca, e tem umas que são passadas [fita] isolante no cabo. Outras eles mesmos [médicos] reformaram", afirmou um funcionário do hospital, que, por segurança, preferiu não se identificar. A Associação Beneficente Nossa Senhora do Pari foi fundada em 2002 e é 100% credenciada pelo SUS para atendimentos ortopédicos. Ainda conforme o funcionário, a unidade usa as furadeiras em todos os procedimentos que exigem perfuração óssea. "Só vejo essas amarelas de parede mesmo. E como que as parafusadeiras chegam até lá, dá para saber. Tem uma pessoa responsável por comprar as coisas do hospital e ela compra essas [caseiras] porque diz que é mais barato e também para manutenção é mais barato", relata o funcionário. Médicos do Hospital Pari, Centro de SP, usam furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas TV Globo Perda de mobilidade do braço Em 2020, após um acidente de moto, Eduardo Santos foi encaminhado para uma cirurgia no Hospital do Pari. Ele conta que perdeu a mobilidade do braço direito e, por isso, processou a unidade. "Eu sentia tudo, eles me cortando, me batendo. Foi um horror. Eu não consigo trabalhar porque meu braço não acompanha o movimento do outro. Ele não abre". O advogado Helton Fernandes, especialista em direito de saúde, afirma que a situação pode ser enquadrada como erro médico. "Toda conduta profissional em desacordo com o que prescreve a ciência e medicina deve ser encarado como erro. Você não pode tolerar que, pelo fato de ser no sistema público, esse profissional possa empregar meios que não são adequ
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Vídeos mostram as furadeiras usadas pelos médicos do Hospital do Pari, Centro de SP, durante cirurgias. A Vigilância Sanitária disse que esteve no local e não encontrou irregularidade; Anvisa proíbe uso do equipamento em procedimentos desde 2008. Funcionários relatam que receberam ordem para esconder furadeiras domésticas usadas em cirurgias durante fiscalização Reprodução/TV Globo Funcionários do Hospital Nossa Senhora do Pari, que fica no Centro de São Paulo e foi denunciado por fornecer furadeiras domésticas para cirurgias ortopédicas, afirmam que receberam ordem para esconder todos os equipamentos irregulares durante fiscalização da Vigilância Sanitária do estado realizada nesta quinta-feira (6). O uso de furadeiras domésticas em cirurgias é proibido pela Anvisa desde 2008. A nota técnica, emitida pelo órgão, afirma que o uso representa um grave risco para a saúde e constitui infração sanitária por se tratar de produto sem registro na Anvisa. Em nota, a Vigilância Sanitária disse que esteve no local depois da reportagem da TV Globo – que mostrou o uso das furadeiras domésticas – e não encontrou nenhuma irregularidade. Por telefone, um funcionário, que prefere não se identificar, contou como foi a ordem de esconder os equipamentos para não serem flagrados na fiscalização. "A gerente de enfermagem, junto com a diretoria, pediu pra esconder tudo de irregular por causa da Vigilância Sanitária, tipo furadeira, material reutilizado que foi tirado de um paciente para por em outro, e estão mandando esconder". Outra funcionária, que também pediu para não se identificar, também percebeu que os equipamentos foram escondidos. Em uma troca e mensagens, ela diz "Cremesp veio aqui de manhã, esconderam as blacks". Outra pessoa responde: "black furadeiras". E ela diz "sim". Uma mulher que trabalhou no hospital por 4 anos procurou a reportagem da TV Globo para relatar que pediu demissão quando descobriu as péssimas condições sanitárias do hospital "A gente se via numa situação onde tinha tudo para dar certo, tinha recursos, não é uma instituição que não tinha recursos. Era uma instituição que recebia um repasse grande do SUS". Médicos do Hospital Pari, Centro de SP, usam furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas TV Globo Os detalhes do convênio firmado entre a Prefeitura de São Paulo e o hospital Nossa Senhora do Pari são públicos e estão disponíveis no site da própria prefeitura. No documento, fica claro que o hospital é contratado para prestação de assistência à saúde e integrara o Sistema Único de Saúde. E que o valor do repasse anual destinado ao hospital é de pouco mais de R$ 33 milhões. Ou seja, em média, R$ 2, 8 milhões por mês. A direção do Hospital do Pari afirmou que cerca de 550 cirurgias por mês, e que tem o compromisso de atender a população com o mais elevado padrão de qualidade hospitalar. Denúncia Médicos do Hospital Pari, Centro de SP, usam furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas Imagens gravadas no dia 24 de janeiro de 2025 mostram a precariedade na estrutura do hospital com goteiras no corredor. Médicos foram filmados usando furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas. Nas imagens, é possível ver as furadeiras, que são proibidas pela Anvisa desde 2008, usadas pelos médicos com marcas de sangue e até com fios desencapados (veja acima). "São de cinco a nove furadeiras que têm na casa, são as comuns que você compra para perfurar a parede. Algumas têm até raspada a marca, e tem umas que são passadas [fita] isolante no cabo. Outras eles mesmos [médicos] reformaram", afirmou um funcionário do hospital, que, por segurança, preferiu não se identificar. A Associação Beneficente Nossa Senhora do Pari foi fundada em 2002 e é 100% credenciada pelo SUS para atendimentos ortopédicos. Ainda conforme o funcionário, a unidade usa as furadeiras em todos os procedimentos que exigem perfuração óssea. "Só vejo essas amarelas de parede mesmo. E como que as parafusadeiras chegam até lá, dá para saber. Tem uma pessoa responsável por comprar as coisas do hospital e ela compra essas [caseiras] porque diz que é mais barato e também para manutenção é mais barato", relata o funcionário. Médicos do Hospital Pari, Centro de SP, usam furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas TV Globo Perda de mobilidade do braço Em 2020, após um acidente de moto, Eduardo Santos foi encaminhado para uma cirurgia no Hospital do Pari. Ele conta que perdeu a mobilidade do braço direito e, por isso, processou a unidade. "Eu sentia tudo, eles me cortando, me batendo. Foi um horror. Eu não consigo trabalhar porque meu braço não acompanha o movimento do outro. Ele não abre". O advogado Helton Fernandes, especialista em direito de saúde, afirma que a situação pode ser enquadrada como erro médico. "Toda conduta profissional em desacordo com o que prescreve a ciência e medicina deve ser encarado como erro. Você não pode tolerar que, pelo fato de ser no sistema público, esse profissional possa empregar meios que não são adequados naquele caso", afirmou. Problema de esterilização Dentro das medidas de controle sanitário para um procedimento cirúrgico, tem também outras questões, como a higienização e esterilização desses equipamentos. E, no fragrante feito dentro do hospital, o produto usado para higienização é um detergente desengordurante. No entanto, no site do próprio fabricante, tem a indicação: "ideal para locais como pousadas, hotéis de médio porte, cozinhas e restaurantes". Médicos do Hospital Pari, Centro de SP, usam furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas TV Globo O que dizem os órgãos A TV Globo buscou os órgãos envolvidos na gestão e fiscalização do Hospital do Pari, mas ninguém quis dar entrevista. Por nota, a diretoria do Hospital Pari disse que os perfuradores utilizados por eles são aprovados pela Anvisa, e que são fiscalizados periodicamente pelos órgãos competentes. A Secretaria Estadual da Saúde também enviou uma nota e disse que o hospital tem total autonomia administrativa e que está sob gestão do município. Acrescentou ainda que a Vigilância Sanitária realiza inspeções no local. Já o Conselho Regional de Medicina disse acionou o departamento de fiscalização e que investigará o caso. A Anvisa informou que trata apenas casos dentro das competências do município ou do estado e que, neste caso, seria uma demanda para a prefeitura local. A Prefeitura de SP disse que não há denúncias contra o hospital e que, se comprovada qualquer irregularidade, o contrato pode ser rescindido. Além disso, informou que o alvará sanitário é de responsabilidade do estado.