Em defesa da juventude angolana

Um reforço institucional obriga sempre a uma mudança de paradigma social, porque uma classe social que ascende dentro de velhas instituições tende a reproduzir comportamentos e não a transformar-se.

Fev 7, 2025 - 02:29
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Em defesa da juventude angolana

Depois da divulgação do caso de desvio de sete mil milhões de kwanzas da AGT, foi lançado um anátema sobre a juventude angolana, baseando-se na ideia segundo a qual esta não está, ainda, preparada para assumir cargos de grande relevância no país.

Esse tipo de discurso propagado nas redes sociais demonstra a incapacidade de se realizar uma análise estrutural sobre os fenómenos sociais e políticos em Angola. Este tipo de análise tem de estabelecer uma relação causal entre o regime político e a classe social. Poderá esmiuçar acerca dos canais de ascensão dos jovens dentro da administração pública e dos cargos ministeriais, procurando, assim, entender o circuito de acesso aos lugares privilegiados no seio do regime. Não poderá, ainda, negligenciar, por completo, o facto de um grupo minoritário de jovens não ser nunca representativo de uma classe, sendo, sobretudo, um segmento populacional que expressa a existência de uma faixa etária.

Se aplicarmos os critérios de representação política, o governo angolano e o parlamento nunca foram representativos em relação à distribuição populacional, em matéria de idade e de género. Este governo, por exemplo, tem uma média de idades superior a 50 anos.

Fica, pois, difícil sustentar um anátema relativo à juventude angolana, que não passa de um exercício   de inferiorização de um segmento populacional tão diverso e rico, onde existem pessoas com condutas correctas e erradas, virtuosos e pecadores. Quem andou a depositar o seu voto de confiança na juventude angolana com base na ascensão de alguns quadros jovens na administração pública ou no governo não deve, em nosso entender, aproveitar eventos isolados para lançar um ataque aos jovens angolanos. O fortalecimento das instituições públicas e do Estado é mais relevante para o regime do que possuir homens fortes ou providenciais.

Um reforço institucional obriga sempre a uma mudança de paradigma social, porque uma classe social que ascende dentro de velhas instituições tende a reproduzir comportamentos e não a transformar-se. É, por isso, que não deposito a minha fé nos jovens angolanos per se, sobretudo quando esta juventude está envolvida, directamente, na preservação de velhos comportamentos alimentados pelo próprio regime em vigor.

Qualquer análise sobre a mudança social angolana devia evitar o conceito lato de juventude, porque é um conceito espúrio e vazio de conteúdo efectivo, que serve mais para alimentar textos panfletários do que promover uma reflexão com alguma utilidade analítica. Seria mais importante compreender se a ascensão de uma nova classe social conduzirá a um acto de “suicídio de classe”, tal como advogava Amílcar Cabral, ou se, por sua vez, assumirá uma linha de continuidade.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.