Como começou a epidemia de fentanil? A história de um marketing pouco ético que a impulsionou

A crise do fentanilo nos EUA não é apenas um problema de saúde pública e política internacional, mas também o resultado de décadas de estratégias de marketing agressivo e pouco ético por parte da indústria farmacêutica.

Fev 8, 2025 - 15:28
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Como começou a epidemia de fentanil? A história de um marketing pouco ético que a impulsionou

A crise do fentanilo nos EUA não é apenas um problema de saúde pública e política internacional, mas também o resultado de décadas de estratégias de marketing agressivo e pouco ético por parte da indústria farmacêutica. A comercialização irresponsável de opioides, liderada pela Purdue Pharma com o seu OxyContin, foi o gatilho para uma epidemia que causou mais de 500 mil mortes por overdose nos Estados Unidos nas últimas duas décadas.

Como tudo começou? Tudo se resume ao poder do marketing na indústria farmacêutica. O caso da comercialização massiva de OxyContin ilustra como o marketing pode moldar mercados e gerar crises sanitárias. Como relata o jornal “Merca20”, a Purdue Pharma desenvolveu uma estratégia de promoção baseada em desinformação: minimizou o potencial viciante do fármaco, subornou médicos e manipulou estudos científicos para favorecer a sua venda massiva.

A família Sackler, proprietária da farmacêutica, aproveitou a experiência que tinha em publicidade médica para posicionar os opioides como uma solução segura para a dor, mas as consequências devastadoras eram ocultadas.

O marketing agressivo da Purdue não apenas aumentou exponencialmente as vendas, como também normalizou a utilização de opioides na sociedade americana, criando uma procura insaciável. Com o tempo, e à medida que a regulamentação se tornou mais rígida, os pacientes que acabaram por ficar dependentes dos opioides começaram a procurar alternativas mais baratas e acessíveis no mercado ilegal. É aí que entra o fentanilo.

O fentanilo, um opioide sintético até 50 vezes mais potente do que a heroína, rapidamente se tornou a droga favorita dos cartéis criminosos, que o produzem em laboratórios clandestinos e o introduzem nos Estados Unidos, exacerbando a crise. A procura contínua e a facilidade de produção levou a que as margens de lucro fosse astronómicas: por cada quilograma de fentanilo, os traficantes podem obter cerca de 296 mil dólares em cidades como Los Angeles. Tudo isto só aumenta ainda mais o problema: por um lado o vício, por outro o grande lucro que se pode retirar de pouco.

Com tudo isto, o consumo de fentanilo transformou-se numa epidemia dispendiosa para os Estados Unidos que gastam milhares de milhões de dólares em cuidados de saúde, programas de reabilitação e políticas de controlo de drogas. Diante da crise, o ex-presidente Donald Trump propôs a imposição de tarifas ao México e Canadá, acusando-os de facilitar o tráfico de fentanilo. A origem do problema, no entanto está diretamente ligada ao marketing farmacêutico pouco ético dentro dos EUA.