A DeepSeek destronou as “7 Magníficas”?

Na passada segunda-feira, 27 de janeiro, após o anúncio da chinesa DeepSeek, assistiu-se a uma queda significativa na bolsa de valores americana e levantaram-se questões importantes sobre a competitividade global e consequências geopolíticas.

O chatbot DeepSeek, plataforma de inteligência artificial (IA) chinesa, em apenas 48 horas, abalou o mundo da tecnologia de forma profunda e inesperada, colocando em causa certezas sobre a indústria e fazendo com que as “7 Magníficas” americanas da tecnologia perdessem cerca de 650 mil milhões de euros em Wall Street. Para se ter uma ideia do impacto nos investidores, as perdas em bolsa correspondem a quase duas vezes e meia o total do PIB português.

As ações da NVIDIA, por exemplo, caíram quase 17%, e outras grandes empresas, como Alphabet, Microsoft e Tesla, também sofreram quedas muito significativas. Tudo isto, porque o aplicativo DeepSeek, colocou em causa o ecossistema fechado de IA.

A DeepSeek, com a sua abordagem de código aberto e modelos de IA altamente eficientes, conseguiu alcançar resultados equivalentes aos das maiores empresas de tecnologia dos EUA, mas com um custo de desenvolvimento muito menor. Em causa, perante os investidores, estão os avultados investimentos de centenas de milhões de dólares que as “7 Magníficas” fizeram nos últimos anos.

A DeepSeek é revolucionária para o ecossistema de IA, porque a plataforma chinesa criou um algoritmo com soluções tecnológicas inovadoras que exigem um poder de processamento que é 83 vezes mais eficiente do que as suas concorrentes (Meta, OpenAi ou Copilot).

A par dessa eficiência de processamento, a plataforma chinesa também acomoda menos consumos e custos de energia, o que permitiu um investimento na plataforma de IA muitíssimo mais baixo (6 milhões de dólares) quando comparado com as suas concorrentes. Mais, tudo isto foi desenvolvido e está disponível em código aberto, o que tem a enorme vantagem de potenciar no ecossistema de IA mais competitividade, mais programadores, mais startups, e mais empresas a poderem desenvolver soluções tecnológicas a partir da DeepSeek.

É verdade que a DeepSeek está ainda confinada ao texto, enquanto outras plataformas de IA já permitem o uso de imagem e vídeo, mas estou certo de que será apenas uma questão de tempo (pouco) até disponibilizarem aos utilizadores essas funcionalidades.

A ascensão da DeepSeek foi comparada ao lançamento do Sputnik pela União Soviética, que marcou um ponto de inflexão na corrida espacial e na Guerra Fria. É evidente que a ascensão da DeepSeek tem implicações geopolíticas importantes. A China quer posicionar-se como um líder global em tecnologia de ponta, desafiando a supremacia dos EUA. Este movimento altera o equilíbrio global de poder na tecnologia, mas também levanta questões sobre a colaboração internacional e a segurança na IA.

Com o avanço rápido da DeepSeek, surgem naturalmente preocupações éticas e de segurança. A abordagem de código aberto da empresa levanta questões sobre privacidade e uso responsável da IA. É por isso crucial que a comunidade global de IA trabalhe em conjunto para estabelecer diretrizes claras e garantir que a tecnologia seja usada de maneira ética e segura.

À medida que avançamos, é essencial que empresas, governos e sociedade civil colaborem para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que a IA oferece.