Ucrânia: Cobiça de Trump por minerais críticos volta a atacar
Trump quer minerais críticos da Ucrânia, mas a Rússia já reagiu. Alguns destas reservas ficam localizadas em áreas controladas pelo exército russo. Governo de Zelensky já tinha oferecido aos "seus parceiros estratégicos" um plano para a proteção e investimento nestes minerais. China domina produção e refinação mundial destes minerais.
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Depois da Gronelândia, a cobiça de Donald Trump por minerais críticos volta a atacar. Agora, virou a sua atenção para a Ucrânia e deixou uma mensagem pública a Volodymyr Zelensky: os EUA querem minerais críticos em troca de apoiar a guerra de Kiev contra Moscovo.
Alguns destes minerais críticos estão em áreas atualmente sob ocupação da Rússia, que lançou uma invasão em grande escala no início de 2022, tendo invadido a Crimeia em 2014.
“Estamos a dizer à Ucrânia que têm terras raras muito valiosas. Estamos a tentar fazer um acordo com a Ucrânia onde conseguem o que querem com terras raras e outras coisas”, disse o presidente norte-americano na segunda-feira em declarações aos jornalistas na Casa Branca.
O presidente dos EUA quer “igualar” a fatura de guerra de Washington com Kiev, que já atinge os “300 mil milhões de dólares” de apoios, afirmou, citado pela “Reuters”.
Donald Trump também apelou aos aliados europeus por mais apoio a Kiev: “É mais importante para eles do que para nós, mas estão muito abaixo em termos de dinheiro”.
Desde 2022, com o presidente Joe Biden, os EUA providenciaram 66 mil milhões de dólares em assistência militar à Ucrânia.
Ficou no ar a dúvida se o presidente norte-americano referia-se somente a terras raras ou a todo o tipo de minerais críticos. No caso do primeiro, é um grupo de 17 metais usados para baterias de carros elétricos, telemóveis ou outros equipamentos eletrónicos.
O US Geological Survey considera que existem 50 minerais críticos para a economia do país e a sua defesa nacional, incluindo o níquel e o lítio.
Mas o que é que a Ucrânia tem? Grandes depósitos de urânio, grafite, lítio e titânio, mas está longe de deter as maiores reservas no mundo destes minérios.
“Não é só um passo crucial para a recuperação económica no pós-guerra, mas é também uma possibilidade para os EUA resolverem problemas globais na cadeia de abastecimento”, segundo Nataliya Katser-Buchkovska, ex-deputada e co-fundadora do Ukrainian Sustainable Investment Fund, citada pela “CNN”.
As palavras de Trump revelam o grande problema dos EUA neste momento: é que o maior produtor mundial de terras raras é a China, que detém quase 90% da capacidade de refinação a nível global. Os EUA contam apenas com uma mina de terras raras, mas a capacidade de refinação fica muito aquém.
Os EUA dependem fortemente da importação destes minerais: dos 50 minerais que considera críticos, depende totalmente do exterior para o abastecimento de 12 e depende em mais de 50% do exterior para o abastecimento de outros 16 minerais.
A Ucrânia conta com 22 destes 50 minerais críticos.
“Permanece por ver que tipo de acordo será, mas será do melhor interesse da Ucrânia, para a sua recuperação no pós-guerra e perspetivas económicas de longo prazo, maximizar ao máximo o processamento e criação de valor de quaisquer minerais extraídos na Ucrânia por empresas ucranianas”, disse, por sua vez, o advogado Adam Mycyk, da filial em Kiev da sociedade Dentons.
Mas num mundo em que a política internacional continua a surpreender constantemente, eis que o Kremlin já reagiu à intenção de Donald Trump, com críticas.
“Chamando as coisas pelo nome, esta é uma proposta para comprar ajuda – por outras palavras, não a dão incondicionalmente, ou por outras razões, mas especificamente numa base comercial”, disse o porta-voz do Kremlin.
“Seria melhor se não fosse providenciado, pois contribuiria para o fim deste conflito”, afirmou Dmitri Peskov, citado pelo “Politico”.
Em Berlim, a proposta de Trump já foi criticada: “muito egoísta, muito auto-centrada”, disse o chanceler Olaf Scholz, considerando que a Ucrânia precisa dos seus recursos naturais para financiar a reconstrução do país no pós-guerra.
No “Plano de Vitória” apresentado pelo Governo de Kiev em 2024, os minerais críticos do país eram precisamente um dos pontos em destaque.
“Os depósitos de recursos críticos na Ucrânia, em conjunto com o importante potencial de produção de alimentos e de energia, estão entre os objetivos predatórios chave da Federação Russa nesta guerra. E esta é a nossa oportunidade para crescer”, afirmou em outubro o presidente ucraniano.
A Ucrânia pretende assim “oferecer aos seus parceiros estratégicos um acordo potencial para a proteção conjunta dos recursos críticos do país, assim como investimento conjunto e uso deste potencial económico. Isto envolve recursos naturais e minerais críticos no valor de biliões de dólares, incluindo urânio, titânio, lítio, grafite e outros recursos estratégicos valiosos que são uma vantagem significativa na competição global”, segundo o comunicado de Kiev divulgado em outubro.