Quando trocar ideia atrapalha no corporativo
Nos últimos tempos, as gírias paulistas saíram das esquinas da cidade e invadiram a internet. Expressões como “bagulho”, “mó” e “parada” passaram a ser faladas por influenciadores e celebridades digitais, ampliando seu alcance pa...
Nos últimos tempos, as gírias paulistas saíram das esquinas da cidade e invadiram a internet. Expressões como “bagulho”, “mó” e “parada” passaram a ser faladas por influenciadores e celebridades digitais, ampliando seu alcance para além das fronteiras de São Paulo. O fenômeno digital é inegável: o jeito paulista de falar ganhou notoriedade, sendo disseminado por memes, vídeos e até no vocabulário do dia a dia de quem nunca colocou os pés na capital paulista. No entanto, à medida que essas gírias ganham cada vez mais espaço, surge a reflexão sobre os limites da informalidade na comunicação e os riscos da falta de clareza.
A informalidade das gírias tem o poder de aproximar, criando uma sensação de pertencimento, especialmente entre as gerações mais jovens. Elas têm o dom de conectar, humanizar a comunicação e trazer autenticidade. A internet, como um motor de aceleração cultural, facilita a rápida adoção dessas expressões, transformando um vocabulário local em uma linguagem global. No entanto, ao mesmo tempo em que as gírias ganham popularidade, elas correm o risco de comprometer a clareza da mensagem, tornando-se uma barreira invisível entre quem fala e quem ouve. O uso excessivo pode afastar a compreensão, criando ruídos que distorcem o real propósito da comunicação.
Esse cenário não passa despercebido pelas marcas, que, ávidas por se conectar com o público jovem, começam a adotar essas gírias como estratégia de marketing. No entanto, nem sempre esse uso é bem-sucedido. Quando a linguagem parece forçada ou exagerada, ela perde sua autenticidade. Em vez de gerar identificação, passa a impressão de uma tentativa desesperada de se encaixar em um público que, muitas vezes, percebe a artificialidade da comunicação. A verdadeira conexão, nesse caso, está em entender o contexto e não em imitar o comportamento alheio.
A comunicação digital, por ser dinâmica e veloz, exige um equilíbrio constante entre autenticidade e clareza. Enquanto a informalidade pode aproximar, o excesso de informalidade pode afastar. O uso de gírias paulistas, por exemplo, é uma ferramenta poderosa quando empregada de maneira natural e contextualizada. Mas quando ultrapassa os limites do que é compreensível, corre o risco de se tornar um obstáculo à mensagem.
É fundamental entender que a viralização das gírias não significa que elas devam ser aplicadas indiscriminadamente em todas as situações de comunicação. O importante é saber em que contexto e para quem essas expressões são adequadas, garantindo que a mensagem seja clara e que não se perca no caminho. A autenticidade da linguagem não pode ser um fim em si mesma, mas sim um meio para aproximar, engajar e, acima de tudo, comunicar de forma eficiente.
Ou seja, o uso das gírias paulistas na comunicação digital não é apenas uma tendência, mas uma responsabilidade. Compreender os limites entre informalidade e a lucidez, entre a conexão e o exagero, é o que fará a diferença entre uma comunicação eficaz e uma mensagem perdida no barulho da internet. O equilíbrio é a chave para navegar nesse universo linguístico, sem deixar que a viralização obscureça o poder de uma interação clara e bem construída.
*Adriano Santos, sócio da Tamer Comunicação