O novo ciclo

A tomada de posse do novo presidente americano, amanhã, pode tornar-se o momento simbólico do fim da ordem internacional que começou com a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Nos próximos trinta anos, veremos o regresso dos impérios e do mundo multipolar, com Rússia e China a formarem um bloco quase tão poderoso como o americano. No ciclo de 36 anos que agora acaba, tivemos migrações, desigualdades, dívida, Estados falhados e a criação de novas oligarquias financeiras; no futuro, vamos provavelmente assistir a mais nacionalismo, recuo da globalização e substituição das elites políticas. Neste último ponto, a Europa é o laboratório: as atuais chefias vão ser trocadas por governantes que os novos senhores de Washington possam aceitar. Centristas e progressistas incapazes de trabalhar com Donald Trump darão o seu lugar a conservadores menos favoráveis a migrações em larga escala. Muitos interesses já se estão a adaptar à nova situação, que não será nenhuma revolução ideológica, como pretendia a fação extrema do movimento que elegeu Trump. Nos próximos trinta anos, haverá menos guerras e menos comércio, relações mais pragmáticas entre as potências e um grande projeto heróico de ir a Marte, idêntico à corrida da Antárctida no início do século XX. Até meados do século, vamos ouvir falar menos vezes em alterações climáticas ou direitos das minorias. A nova ordem inclui a contestação do controlo burocrático sobre os eleitos e a redução da capacidade de impor limitações à liberdade de expressão em nome da democracia.

Jan 19, 2025 - 13:21
O novo ciclo

A tomada de posse do novo presidente americano, amanhã, pode tornar-se o momento simbólico do fim da ordem internacional que começou com a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Nos próximos trinta anos, veremos o regresso dos impérios e do mundo multipolar, com Rússia e China a formarem um bloco quase tão poderoso como o americano. No ciclo de 36 anos que agora acaba, tivemos migrações, desigualdades, dívida, Estados falhados e a criação de novas oligarquias financeiras; no futuro, vamos provavelmente assistir a mais nacionalismo, recuo da globalização e substituição das elites políticas. Neste último ponto, a Europa é o laboratório: as atuais chefias vão ser trocadas por governantes que os novos senhores de Washington possam aceitar. Centristas e progressistas incapazes de trabalhar com Donald Trump darão o seu lugar a conservadores menos favoráveis a migrações em larga escala. Muitos interesses já se estão a adaptar à nova situação, que não será nenhuma revolução ideológica, como pretendia a fação extrema do movimento que elegeu Trump. Nos próximos trinta anos, haverá menos guerras e menos comércio, relações mais pragmáticas entre as potências e um grande projeto heróico de ir a Marte, idêntico à corrida da Antárctida no início do século XX. Até meados do século, vamos ouvir falar menos vezes em alterações climáticas ou direitos das minorias. A nova ordem inclui a contestação do controlo burocrático sobre os eleitos e a redução da capacidade de impor limitações à liberdade de expressão em nome da democracia.