Crítica | Babygirl (2024): Nicole Kidman brilha em thriller erótico hesitante

Longa explora a culpa e o poder no desejo feminino, mas a narrativa não sustenta suas reflexões mais profundas. O post Crítica | Babygirl (2024): Nicole Kidman brilha em thriller erótico hesitante apareceu primeiro em Cinema com Rapadura.

Jan 19, 2025 - 18:24
Crítica | Babygirl (2024): Nicole Kidman brilha em thriller erótico hesitante

A diretora e roteirista Halina Reijn abre “Babygirl” com uma cena que coloca a protagonista Romy (Nicole Kidman) em um momento de frustração íntima com o marido (Antonio Banderas). Essa introdução não é apenas uma escolha narrativa, mas sim a chave para entender o que move a protagonista. Romy é uma CEO em um ambiente corporativo que exige dela um distanciamento emocional quase desumano. Mas, fora dos limites do escritório, suas fragilidades vêm à tona: uma mulher em busca de prazer e conexão, mas que encontra nos próprios desejos uma fonte de insegurança e vergonha.

A intenção de Reijn era retratar a dinâmica do jogo de poder comum em thrillers eróticos, porém sem a idealização masculina tão presente no subgênero. A câmera e a narrativa são colocadas a serviço de explorar a experiência feminina do desejo — sem embelezá-la ou simplificá-la. Nicole Kidman dá vida a uma mulher que, apesar de seu sucesso profissional, é tomada pela sensação de culpa enquanto se permite ceder à relação com um jovem estagiário, Samuel (Harris Dickinson). Essa dinâmica, em que as posições hierárquicas se misturam com o desejo reprimido, é tanto o motor quanto o obstáculo para o filme.

Ao contrário de outros exemplares, “Babygirl” opta por retratar os encontros sexuais cruamente, de forma quase anticlimática. As cenas entre Romy e Samuel são marcadas por silêncios desconfortáveis e hesitações, distantes da sensualidade estilizada típica do subgênero. Isso poderia funcionar como um reflexo das próprias inseguranças da protagonista, mas o filme parece não saber sustentar essa escolha. Quando finalmente mergulha em seus desejos, vemos uma edição acelerada de cenas curtas para, logo em seguida, a câmera enquadrar a protagonista mais uma vez como uma figura distante, perpetuando a ideia de julgamento e punição em vez de abraçar a libertação da personagem.

Embora a trama central busque explorar esse jogo de poder e desejo, subplots e metáforas são incluídas, mas nunca desenvolvidas com profundidade. Questões como a relação entre chefe e empregado ou as implicações de uma CEO arriscar sua posição por um caso extraconjugal são mencionadas, e o roteiro até flerta com um discurso feminista no terceiro ato. Porém, tudo soa superficial demais, envolvendo pouco tempo de tela e personagens secundários que não ganham o devido valor. Mesmo um ator de destaque como Antonio Banderas é subutilizado no papel do marido traído. Quando confronta Samuel, a cena poderia abrir caminho para um debate poderoso sobre masculinidade, fidelidade e desejo, mas o tema se esgota rapidamente, sem explorar os potenciais conflitos emocionais e éticos que essa dinâmica sugere.

Se “Babygirl” possui um ponto forte, ele está no desempenho de Nicole Kidman. A atriz entrega uma Romy dividida entre o peso das expectativas impostas a ela e seus impulsos mais profundos. Kidman ainda consegue mostrar toda a dificuldade em aceitar o desejo como parte legítima da experiência feminina e as implicações disso no decorrer do caso. Sua atuação é magnética e capaz de carregar sozinha o filme, até mesmo em momentos em que a direção e o roteiro parecem titubear.

Halina Reijn se esforça para desconstruir as narrativas tradicionais de poder e sexualidade, mas, ao manter sua protagonista presa em um ciclo de vergonha e distanciamento, o filme acaba reforçando o mesmo olhar crítico que tenta questionar. Enquanto espectadores, somos convidados a refletir sobre as pressões que moldam as escolhas de Romy, mas saímos com a sensação de que muito foi deixado na superfície. “Babygirl” acaba prometendo mais do que entrega, mas, no fim, ainda consegue oferecer um olhar provocativo sobre o que significa ser uma mulher em um mundo onde o desejo ainda é julgado.

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