Saúde na região Centro-Oeste: desafios e avanços na saúde pública

A saúde na região Centro-Oeste é o tema deste texto do projeto Muitos Brasis. Você sabia que a região, responsável por mais de 40% da produção agrícola nacional, enfrenta desafios no acesso a serviços básicos de saúde, principalmente em áreas rurais? Entender a saúde no Centro-Oeste não é apenas uma questão regional, mas um reflexo […]

Jan 31, 2025 - 15:54
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Saúde na região Centro-Oeste: desafios e avanços na saúde pública

A saúde na região Centro-Oeste é o tema deste texto do projeto Muitos Brasis. Você sabia que a região, responsável por mais de 40% da produção agrícola nacional, enfrenta desafios no acesso a serviços básicos de saúde, principalmente em áreas rurais?

Entender a saúde no Centro-Oeste não é apenas uma questão regional, mas um reflexo do equilíbrio do sistema de saúde brasileiro como um todo. Compreender as particularidades dessa região nos permite pensar em soluções que impactam milhões de pessoas e que podem servir de modelo para outras partes do país.

Como podemos promover o desenvolvimento de um sistema de saúde mais acessível e eficiente para essa região? 

Descubra neste texto os desafios, avanços e oportunidades que fazem da saúde no Centro-Oeste um tema essencial para o futuro do Brasil.

Contexto histórico e social da saúde na região Centro-Oeste

O sistema de saúde brasileiro é composto por uma variedade de organizações públicas e privadas que foram estabelecidas em diferentes períodos históricos. A história e o contexto socioeconômico do Brasil influenciou o quadro de saúde pública no país ao longo do tempo. 

A região Centro-Oeste, em específico, enfrenta dificuldades no acesso aos recursos de saúde, em parte devido à menor concentração de universidades e centros de pesquisa em comparação ao Sudeste, por exemplo. 

Esse fator é reflexo de um desenvolvimento desigual no Brasil, no qual o direcionamento dos investimentos priorizaram regiões mais industrializadas e economicamente desenvolvidas. Por exemplo, já em 1986, a região Sudeste recebeu 59,28% dos recursos do INAMPS, enquanto o Centro-Oeste recebeu apenas 5,02%, apesar de abrigar 6,78% da população​.

Mas qual o motivo para isso acontecer?

A colonização foi um ponto de partida para a desigualdade na saúde no Brasil. As populações indígenas, antes saudáveis e adaptadas ao seu ambiente, foram devastadas por doenças trazidas pelos colonizadores. 

Durante o período imperial e início da República, a saúde pública era focada em intervenções higienistas voltadas para áreas de interesse econômico. Já a industrialização e a urbanização do início do século XX trouxeram a necessidade de um sistema de saúde mais estruturado. Contudo, os esforços ainda estavam concentrados nas regiões mais industrializadas. 

A transferência da capital para Brasília na década de 1960 marcou um esforço de interiorização, mas a migração intensa para a região superou a capacidade de oferta de serviços. Assim, apenas na década de 1970, com a reforma universitária e a expansão de cursos de medicina, essas questões começaram a ser parcialmente abordadas.

A construção da nova capital federal causou surtos de doenças como malária, dengue e leishmaniose, devido ao rápido crescimento urbano e às condições precárias de saneamento básico. A criação de instituições como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) contribuiu para combater essas doenças.

Outra criação extremamente importante para expansão do acesso à saúde foi a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988. Antes da criação do SUS, a assistência à saúde era restrita a trabalhadores formais com carteira assinada, enquanto a população sem vínculo formal dependia de ações filantrópicas ou era excluída do sistema. 

 A reforma sanitária foi conduzida pela sociedade civil e resultou na criação do SUS em 1988, promovendo a saúde como um direito do cidadão e dever do Estado​. A implementação do SUS foi o que garantiu maior acesso aos serviços de saúde para populações urbanas e rurais do Centro-Oeste.

Além disso, programas mais recentes, como o Mais Médicos (2013) ajudaram a levar atendimento a áreas remotas e comunidades indígenas.

A criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) foi um avanço para atender populações indígenas, mas desafios como desnutrição e falta de acesso a cuidados persistem.

A história da saúde pública no Brasil reflete uma trajetória de exclusão e centralização que perpetua desigualdades regionais. A falta de investimento histórico em infraestrutura e formação de profissionais no Centro-Oeste destaca a necessidade de políticas públicas mais equitativas e regionalizadas. 

Embora iniciativas recentes, como a ampliação do SUS e o fortalecimento de agendas locais, tenham começado a corrigir essas disparidades, ainda há um longo caminho para garantir que grupos historicamente marginalizados tenham acesso igualitário à saúde.

Essa análise reforça que o desenvolvimento de políticas de saúde deve levar em conta as particularidades históricas e sociais de cada região

Perfil epidemiológico da região Centro-Oeste

A região Centro-Oeste apresenta um panorama diversificado de indicadores de saúde que refletem desafios e avanços em saúde pública. Neste tópico, vamos destacas os principais aspectos relacionados a mortalidade, morbidade, doenças crônicas e infecciosas, saúde materno-infantil e os gastos com saúde na região.

No período entre 2010 e 2023, o Centro-Oeste apresentou uma redução na taxa de mortalidade por causas evitáveis (aquelas preveníveis, total ou parcialmente, por ações efetivas dos serviços de saúde).

Por outro lado, em 2022, segundo o Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Distrito Federal foi o segundo estado da região Centro-Oeste que mais registrou internações infantis, o índice mais elevado em 13 anos, além de 65 casos de desnutrição em bebês.

O quadro de desnutrição em crianças pode ter consequências irreversíveis, como baixa estatura, menor rendimento escolas, recorrência de doenças infecciosas, prejuízos no desenvolvimento psicomotor e menor produtividade quando adultos. Além disso, essa é a causa associada à maior mortalidade. 

Veja também: Entenda o que é o Mapa da Fome e quais são seus objetivos

Um grande desafio foi a alta taxa de mortalidade por Covid-19, especialmente em Mato Grosso, que em 2021 apresentou 185,3 óbitos por 100 mil habitantes, sendo o quinto estado com maior mortalidade no Brasil. O estado ficou atrás do Amazonas (281,6), Roraima (208,6), Rio de Janeiro (200,3) e Rondônia (198).

Além disso, o câncer de pulmão e brônquios também é um problema de saúde recorrente na região, sobretudo em pessoas do sexo masculino na faixa etária de 60-74 anos, representando mais de 50% da população. O pico do número de casos ocorreu em 2019 (838 casos).

Outra doença que também tem altas taxas de ocorrência no Centro-Oeste é a doença meningocócica, que possui alta taxa de mortalidade, principalmente em crianças. A doença, sem diagnóstico precoce, pode evoluir rápido. 

De 2016 a 2020, foram notificados 164 casos da doença nas quatro capitais do CO:

  • Brasília: 103 casos;
  • Goiânia: 41 casos;
  • Campo Grande: 15 casos;
  • Cuiabá: 5 casos.

O Programa Nacional de Imunizações (2010), do Ministério da Saúde (PNI-MS) foi responsável por reduzir o número de casos da doença.

A Hanseníase também se destaca na região, foram 10.121 novos casos entre 2019 e 2020. Em todo o mundo, em 2020, foram notificados 127.396 casos novos.

Um desafio comum para todo o país é lidar com os casos de dengue e chikungunya. Essa segue sendo uma das maiores preocupações epidemiológicas. Entre 2019 e 2024, foram notificados 1.276.647 casos de dengue na região. Somente em 2022, foi registrado o maior número de casos, sendo 341.205. O estado de Goiás foi o mais afetado, pois representou 46,9% dos casos. 

O mês de maior ocorrência é fevereiro, período de pós-chuva na maioria dos estados.

A Chikungunya também apresenta dados alarmantes. O Centro-Oeste é a segunda região com maior coeficiente de incidência do país (187,6 casos por 100 mil habitantes, ficando atrás apenas do Sudeste (200,2 casos por 100 mil habitantes).

Para lidar com todos esses desafios, as capitais do Centro-Oeste destacaram-se em 2023 entre as que mais investiram em saúde no Brasil. Quase todas as capitais dessas regiões estão entre as 15 primeiras no ranking de despesas per capita com saúde:

  1. São Paulo (SP);
  2. Cuiabá (MT);
  3. Belo Horizonte (MG);
  4. Teresina (PI);
  5. Campo Grande (MS);
  6. Porto Alegre (RS);
  7. Natal (RN);
  8. Distrito Federal (DF);
  9. Vitória (ES);
  10. Curitiba (PR);
  11. João Pessoa (PB);
  12. Goiânia (GO);
  13. Palmas (TO);
  14. Florianópolis (SC);
  15. Fortaleza (CE).

O ranking considera os indicadores: despesa total com saúde sob responsabilidade do município e despesa total com saúde (inclusive as financiadas por outras esferas de governo).

Isso reflete o esforço dos municípios em alocar recursos para enfrentar desafios sanitários regionais e garantir maior cobertura de serviços essenciais à população.

A análise do perfil epidemiológico da região Centro-Oeste evidencia a necessidade de ações integradas de saúde pública para enfrentar as demandas regionais, desde a prevenção de doenças transmissíveis até o fortalecimento da saúde materno-infantil e a ampliação do acesso aos serviços de saúde.

Acesso aos serviços de saúde na região Centro-Oeste

Neste tópico, analisaremos como os moradores da região Centro-Oeste acessam o sistema de saúde, infraestrutura do SUS, desafios da região e qual é a disponibilidade de recursos humanos e de profissionais de saúde no local.

Segundo o ranking do programa Previne Brasil (2023), do Ministério da Saúde, a cidade de Campo Grande é a capital da região Centro-Oeste com melhor índice de indicadores da Atenção Primária e está entre as 10 mais bem avaliadas do país

O Previne Brasil é um programa que monitora a qualidade dos serviços de atenção primária, condicionando o desempenho municipal ao acesso aos recursos de investimento nessa área. 

Os indicadores avaliados incluem atenção à saúde da gestante, realização de exames preventivos em mulheres, cobertura vacinal contra poliomielite e pentavalente, além do acompanhamento de hipertensos e diabéticos.

Nos períodos entre 2017 e 2023, Campo Grande conseguiu dobrar sua cobertura de Atenção Primária, que passou de 33,27% para 71,28%, graças à implantação de novas equipes de saúde da família e à criação de programas de residência multiprofissional, consolidando como um dos maiores do país e o maior do Centro-Oeste. 

Imagem de uma pessoa sendo vacinada. Saúde no Centro-Oeste
Imagem: Gov.Goiás.

Além disso, nesse período, o número de Equipes de Saúde da Família (ESFs) cresceu de 96 em 2017 para 197 em 2023.

A estruturação da Rede Municipal de Saúde também foi importante nesse avanço. Desde 2017, foram inauguradas 11 novas unidades de saúde da família, beneficiando mais de 100 mil pessoas em bairros como Sírio Libanês, Vila Cox, Oliveira, Azaléia, Dom Antônio Barbosa, entre outros. 

Além disso, três Clínicas da Família foram abertas nos bairros Nova Lima, Portal Caiobá e Iracy Coelho. Somado a isso, 30 unidades foram reformadas e ampliadas. A unidade de saúde da família Cidade Morena, por exemplo, conta com duas equipes de saúde da família que atendem mais de 8 mil pessoas, envolvendo médicos, enfermeiros, técnicos, dentistas, residentes e agentes administrativos.

No que diz respeito à oferta de leitos, houve crescimento no setor público entre 2001 e 2005, mas essa expansão não foi uniforme entre as regiões. A Região Norte apresentou o maior percentual de leitos públicos (57,7%), seguida pelo Nordeste (45,3%) e Centro-Oeste (36,6%). 

O setor privado, por outro lado, registrou quedas na oferta de leitos em várias regiões, enquanto a saúde suplementar avançou. Durante a pandemia de Covid-19, tanto os leitos públicos quanto os privados tiveram um aumento temporário em todas as regiões.

O saneamento básico também é um fator determinante para a saúde no Centro-Oeste. Apesar do avanço no acesso à água tratada, que atinge 88,98% da população, apenas 52,89% têm acesso à coleta de esgoto, e 53,88% do esgoto coletado é tratado. 

Segundo o Painel Saneamento Brasil, em 2018, a incidência de internações por doenças de veiculação hídrica no Centro-Oeste foi de 11,87 por 10 mil habitantes. Essa incidência resultou em 19.271 internações por doenças associadas a falta de saneamento básico da região em apenas 12 meses.

Devido ao grande número de casos, foi disponibilizado cerca de R$ 7 milhões em gastos médicos relacionados à falta de saneamento básico. No entanto, investimentos de cerca de R$ 1 bilhão ao ano, têm gerado impactos positivos, como a criação de mais de 54 mil empregos no setor em 2018.

Veja abaixo o panorama do saneamento básico dos estados e do distrito federal do Centro-Oeste:

  • Mato Grosso:
    • Parcela da população com acesso à água: 89,3%;
    • Parcela da população com acesso à coleta de esgoto: 35,6%;
    • Esgoto tratado sobre água consumida: 43,8%;
    • Perdas na distribuição: 33,5%;
    • Internações por doenças associadas a falta de saneamento: 3.955.
  • Mato Grosso do Sul:
    • Parcela da população com acesso à água: 86,4%;
    • Parcela da população com acesso à coleta de esgoto: 49,5%;
    • Esgoto tratado sobre água consumida: 36,8%;
    • Perdas na distribuição: 45,9%;
    • Internações por doenças associadas a falta de saneamento: 2.895.
  • Goiás:
    • Parcela da população com acesso à água: 85,6%;
    • Parcela da população com acesso à coleta de esgoto: 46,4%;
    • Esgoto tratado sobre água consumida: 49,6%;
    • Perdas na distribuição: 30,2%;
    • Internações por doenças associadas a falta de saneamento: 10.475.
  • Distrito Federal:
    • Parcela da população com acesso à água: 99%;
    • Parcela da população com acesso à coleta de esgoto: 89,3%;
    • Esgoto tratado sobre água consumida: 85,4%;
    • Perdas na distribuição: 34,5%;
    • Internações por doenças associadas a falta de saneamento: 1.856.

Políticas públicas e iniciativas de saúde na região Centro-Oeste

E quanto ao impacto do SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS), referência no atendimento médico em todo o Brasil, está presente em todos os 5.570 municípios do país, sendo o único serviço de saúde disponível em 1,9 mil municípios, incluindo seis em Mato Grosso do Sul. 

Isso representa cerca de 15,7 milhões de pessoas que dependem exclusivamente do SUS, principalmente em localidades onde a iniciativa privada não está presente

Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), a região Nordeste concentra o maior número de pessoas nessa situação, com 8,9 milhões de habitantes, seguida pelo Centro-Oeste, onde aproximadamente 796 mil moradores vivem em cidades atendidas apenas pelo SUS. A maioria desses municípios tem cerca de 20 mil habitantes, mas há variações que vão de pouco mais de 800 moradores até 70 mil.

Além de atender as necessidades básicas de saúde, o SUS oferece serviços especializados, como a reabilitação auditiva. No Centro-Oeste, há 13 serviços habilitados em saúde auditiva, sendo dois específicos para atenção especializada às pessoas com deficiência auditiva. 

Entre 2017 e 2020, foram realizados 2,1 milhões de procedimentos auditivos na região, que incluem diagnósticos, cirurgias e tratamentos de reabilitação. Esses serviços abrangem a concessão de tecnologias assistivas, como aparelhos de amplificação sonora individual, implantes cocleares e próteses auditivas ancoradas no osso. 

O Ministério da Saúde investe anualmente R$ 309,9 milhões no custeio dos serviços de reabilitação auditiva, distribuídos entre 241 serviços habilitados em 26 estados, com exceção de Roraima. 

Apesar disso, apenas 8,4% das pessoas com deficiência auditiva frequentam serviços de reabilitação, um dado que reflete a necessidade de ampliar o acesso e a conscientização sobre esses atendimentos. 

A prevalência de deficiência auditiva aumenta com a idade, atingindo 5,2% entre pessoas com 60 anos ou mais. Os serviços também atendem crianças, com foco no desenvolvimento da linguagem e na maximização das capacidades auditivas. Entre 2017 e 2020, cerca de 2,5 mil implantes cocleares foram realizados pelo SUS, sendo 58,4% em crianças de zero a 12 anos.

A desigualdade regional é um desafio para o SUS, que enfrenta maior concentração de profissionais qualificados nas regiões Sul e Sudeste em comparação ao Norte e Nordeste. 

Ainda assim, a região Centro-Oeste apresenta índices próximos à média nacional no número de consultas por habitante e na execução de procedimentos médicos. Isso reforça a importância do fortalecimento do SUS, especialmente em áreas mais vulneráveis, onde ele é a única garantia de acesso à saúde.

Desafios e avanços na saúde da região Centro-Oeste

Embora a Atenção Primária à Saúde (APS) seja a principal porta de entrada para o sistema de saúde brasileiro (Starfield, 2002), ainda há grandes desigualdades regionais em termos de oferta, qualidade e cobertura dos serviços básicos.

Nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o acesso à APS é geralmente melhor, com maior densidade de profissionais e maior oferta de serviços (Protásio; Machado; Valença, 2015; Bousquat et al., 2019). No entanto, mesmo nessas regiões, áreas rurais e periféricas ainda enfrentam dificuldades para acessar serviços de saúde. O Distrito Federal, por exemplo, tem 78% da cobertura de Atenção Básica Primária.

O Centro-Oeste, por exemplo, tem como característica um perfil urbano, com população concentrada nas grandes cidades e em áreas de expansão urbana, além de ter grande presença de atividades agropecuárias, o que gera desafios específicos, como a exposição de trabalhadores a riscos à saúde e a necessidade de infraestrutura adequada.

Outro desafio da região é a grande expansão territorial, o que dificulta o acesso da população aos serviços de saúde em localidades mais distantes. A falta de postos de saúde e hospitais, fazem a diferença no acesso da população residente de áreas rurais.

Dentre os problemas de saúde mais comuns na região Centro-Oeste, são fatores como hipertensão, diabete, sedentarismo e tabagismo que levaram a uma pior autoavaliação de saúde. 

Dados de 2022 apontaram que, entre os quase 39 mil adolescentes da região, 22,8 mil estavam com sobrepeso, 12,6 mil com obesidade e 3,5 mil com obesidade grave. Além disso, Bühler e colaboradores (2023) destacaram que a poluição do ar, o desemprego e a baixa escolaridade, especialmente em municípios impactados pelo processamento de cana-de-açúcar, afetam a saúde respiratória infantil e contribuem para um perfil de violência nesses locais.

A tecnologia tem se tornado uma aliada importante no atendimento assistencial humanizado e na gestão da “jornada da saúde”, que envolve desde o diagnóstico inicial até o tratamento e acompanhamento do paciente. 

Cerca de 89% dos estabelecimentos de saúde no Brasil utilizam sistemas eletrônicos para registro de informações, com o Centro-Oeste liderando com 92%, seguido por Sul e Sudeste (91% cada), Nordeste (85%) e Norte (81%) (TIC Saúde, 2022).

Apesar da alta taxa de digitalização, o uso de ferramentas tecnológicas para agendamentos e visualização de exames ainda varia: o Sudeste lidera com 38%, seguido pelo Sul (33%), Nordeste (32%), Centro-Oeste (27%) e Norte (20%). 

Contudo, a capacitação de profissionais de saúde para o uso dessas tecnologias também é baixa, apenas 30% dos médicos participam de treinamentos. O Sul apresenta a maior taxa de adesão (61%), enquanto o Centro-Oeste registra apenas 16%.

O relatório MoVing The Future, que avalia o impacto das tecnologias no cenário da saúde, destaca que, embora as regiões brasileiras tenham avançado na digitalização, há espaço para melhorar a virtualização de serviços e a capacitação dos profissionais. O objetivo é otimizar a assistência ao paciente, garantindo um atendimento mais ágil, eficiente e acessível para toda a população.

Saúde e qualidade de vida na região Centro-Oeste

Você sabia que o Centro-Oeste concentra as pessoas com melhores condições de vida?

A região Centro-Oeste do Brasil concentra o maior percentual de pessoas com melhores condições de vida entre as áreas mais ricas do país, representando 7,1% da população, ou seja, 507 mil pessoas. 

Esse dado foi revelado pela pesquisa Tipologia Intraurbana do IBGE (2017), que classifica as condições de vida em 11 tipos, de A (melhores) a K (precárias). Segundo o analista Maurício Silva, a presença de Brasília é um fator determinante, dado que a cidade foi planejada, ela foi construída para oferecer uma infraestrutura de qualidade, como distribuição de água eficiente, coleta de lixo abrangente e moradias bem construídas, além de concentrar altos rendimentos.

A pesquisa considerou sete variáveis para avaliar a qualidade de vida, incluindo:

  • Coleta de lixo;
  • Acesso à água por rede geral de distribuição;
  • Rede geral de esgoto ou, pluvial, ou fossa séptica;
  • Densidade de até dois moradores por dormitório;
  • Alvenaria predominante nas paredes externas;
  • Acesso a bens como internet e máquina de lavar. 

No Centro-Oeste, 29,1% da população das áreas metropolitanas estão entre os tipos A e D, com o tipo A, representando as melhores condições de vida, concentrando 5,1% da população na região, maior percentual nacional. 

O estado de Goiânia, destacada pelo Índice de Progresso Social (IPS), ocupa o segundo lugar entre as capitais com melhor qualidade de vida, atrás apenas de Brasília. A cidade também se destacou nos indicadores de “Água e Saneamento” (91,88) e “Moradia” (94,96), mas apresentou desafios em “Segurança Pessoal” (62,25) e “Inclusão Social” (37,02).

Imagem da cidade de Goiânia, de uma parque com seis prédios altos ao fundo em um dia ensolarado, aparentando estar calor. Saúde no Centro-Oeste
Goiânia-GO. Imagem: BMC NEWS.

O IPS é um levantamento que avalia o desempenho social e ambiental nos países, estados e municípios.

Apesar disso, a agropecuária é uma questão ambiental crítica na região. O setor é responsável por 79,4% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 467 municípios, especialmente em Mato Grosso e Goiás. 

Em 2018, o Centro-Oeste emitiu 383,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente (CO2e), representando 20% do total nacional. Apesar da redução nas emissões gerais desde 2000, as emissões da agropecuária aumentaram de 134,7 milhões para 180 milhões de toneladas no período. Por outro lado, as emissões decorrentes do desmatamento caíram significativamente, de 393,5 milhões de toneladas em 2000 para 162,9 milhões em 2018.

O município de Colniza (MT) liderou as emissões no Centro-Oeste em 2018, com 14,3 milhões de toneladas de CO2e, sendo 91% provenientes de mudanças no uso da terra, principalmente desmatamento. 

Já Brasília se destacou como a única cidade da região em que o setor de energia, impulsionado pelo consumo de combustíveis fósseis é a principal fonte de emissões. A setorização urbana e a dependência de transporte rodoviário agravam o problema. 

Além disso, 74% dos municípios do Centro-Oeste têm como principal fonte de emissões no setor de resíduos a disposição final de lixo, com Brasília figurando entre as dez cidades brasileiras que mais emitem GEE nesse setor.

Apesar dos desafios, o Centro-Oeste teve destaque na remoção de 61,4 milhões de toneladas de CO2e da atmosfera em 2018, graças à preservação de áreas protegidas. Mesmo municípios com altas taxas de desmatamento, como Aripuanã e Peixoto de Azevedo (MT), conseguiram contribuir para reduzir as emissões líquidas, demonstrando a importância da conservação ambiental como estratégia de mitigação.

Considerações finais

Como apresentado neste texto, a saúde na região Centro-Oeste reflete os desafios históricos e estruturais do sistema de saúde brasileiro. A desigualdade no acesso aos serviços básicos, as condições precárias de saneamento e a concentração de recursos em regiões mais desenvolvidas mostram como questões históricas, como a colonização e a industrialização, impactaram diretamente o desenvolvimento da saúde pública. 

Apesar de avanços significativos, como a criação do SUS, ainda há muito a ser feito para garantir o acesso universal e equitativo à saúde.

Por outro lado, a ampliação da Atenção Primária à Saúde (APS) e o uso crescente de tecnologias são sinais de avanços importantes. A integração de tecnologias, embora desigual, oferece potencial para otimizar o atendimento e alcançar comunidades em áreas remotas, reduzindo barreiras de acesso e promovendo um cuidado mais eficiente.

Para superar os desafios regionais, é importante investir em políticas públicas equitativas, que considerem as especificidades locais e priorizem populações vulneráveis. O fortalecimento do SUS, aliado a estratégias de prevenção, educação em saúde e inovação tecnológica, pode transformar a saúde no Centro-Oeste, promovendo bem-estar e equidade e desenvolvimento sustentável para a região e o Brasil como um todo.

Continue acompanhando outros eixos e regiões do Muitos Brasis e descubra como as diferenças do Brasil tornam este um país só.

Referências